Título: Derrota de Dilma no Acre indica fim do domínio do PT
Autor: Alencastro, Catarina
Fonte: O Globo, 07/11/2010, O País, p. 15

Há doze anos no poder, partido acumula desgastes

BRASÍLIA. A derrota da presidente eleita, Dilma Rousseff, no segundo turno de votação no Acre, onde obteve apenas 30,3% dos votos válidos contra 69,7% do tucano José Serra, pode ter sido reflexo da insatisfação da população acreana com o governo do estado, comandado há 12 anos pelo PT. A avaliação é de pesquisadores e até de gente próxima ao partido no estado.

Embora o petista Tião Viana tenha vencido a disputa pelo Palácio Rio Branco, o resultado foi alcançado com menos de 5 mil votos de diferença do seu rival, o tucano Tião Bocalom. No segundo turno, além da derrota de Dilma, que perdeu em 21 das 22 cidades do estado, Viana ainda viu a maioria da população rejeitar, em um referendo, a mudança de horário no Acre promovida por um projeto de lei de sua autoria.

¿ Há parcelas da população insatisfeitas por conta de erros acumulados ao longo de 12 anos, principalmente no funcionalismo público. O PT aqui é acusado de autoritarismo, de ser arrogante com os funcionários e com a população ¿ aponta Antonio Alves, que se autointitula ¿assessor dissidente¿ do governo de Binho Marques (PT).

Exemplo desse autoritarismo, diz ele, é o comportamento da imprensa no estado: ¿ No Acre não existe imprensa, existe assessoria de imprensa. Quem ganha o governo leva a imprensa de contrapeso.

A tentação de dominar os meios de comunicação parece irresistível.

Foi a primeira vez, desde que assumiu o poder no estado, que o PT vence por margem tão pequena. O pesquisador Evandro Ferreira, do Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (Inpa), acredita que a supremacia petista no estado está chegando ao fim.

¿PT do Acre tem a mania de controlar demais¿ Ele alega que há um desgaste natural após tantos anos no poder. E diz que Dilma foi mal nas urnas porque Tião e Jorge Viana, eleito senador, não se empenharam o suficiente na campanha nacional.

¿ O PT do Acre tem a mania de controlar demais. Nessa gana de ganhar para se perpetuar no poder, eles jogam todas as fichas nas campanhas locais, e a federal fica meio de lado. A sensação é de que o PT vai perder a prefeitura e o governo nas próximas eleições ¿ avalia.

No primeiro turno, nem mesmo Marina Silva (PV) se saiu bem em seu estado natal, ficando em terceiro lugar, com 23,4% dos votos, atrás de Serra (52,1%) e Dilma (23,9%). Segundo Antonio Alves, que ajudou na campanha de Marina, ela se prejudicou por ter dividido votos com Dilma: ¿ Houve uma demonstração de insatisfação com o PT que atingiu a Marina.

Há quem aponte que a falta de carisma de Dilma também prejudicou.

¿ A gente percebeu nas nossas andanças que havia uma rejeição muito forte ao nome da Dilma. Isso aconteceu em todas as idades e condições sociais.

As pessoas simplesmente não gostaram dela e pronto.

Não tem explicação ¿ pondera o ex-suplente de Marina Silva no Senado e deputado eleito Sibá Machado (PT).

Em outro estado da região, a derrota de Dilma tem outros motivos. Ao trocar Roraima por Rondônia, em discurso na sua visita a Boa Vista (RR), em setembro do ano passado, Dilma mal sabia que selava ali sua derrota eleitoral no estado.

A gafe foi explorada pelos opositores na campanha. No segundo turno, Serra ficou com 66,56%, contra 33,44% de Dilma: o segundo melhor desempenho do tucano no país.

Raposa Serra do Sol foi decisiva em Roraima O lapso de Dilma não foi a única razão da derrota em Roraima.

A demarcação da reserva indígena Raposa Serra do Sol teve enorme peso na decisão do eleitorado local. O governo Lula levou dois terços de seus oito anos de mandato para solucionar o caso, decidido pelo Supremo Tribunal Federal (STF).

¿ Roraima sempre foi um estado problemático. A questão de Raposa causou revolta no eleitorado, que reagiu. Foi mortal ¿ disse o deputado federal Luciano Castro (PR-RR), ex-líder do partido na Câmara e que se reelegeu, com dificuldades, para outro mandato.