Título: Mulheres à beira e dentro do governo de Dilma Rousseff
Autor: Lima, Maria
Fonte: O Globo, 07/11/2010, O País, p. 16

Além de muitas ministras e assessoras, nova presidente terá apoio da mãe e da tia para a rotina no Alvorada BRASÍLIA. A ¿primeira-amiga¿ Erenice Guerra se foi. Mas a presidente eleita, Dilma Rousseff, continuará cercada de mulheres em seu governo e fora dele. No reduto familiar, Dilma é amparada pelo trio formado pela mãe, dona Dilma Jane, pela filha, Paula, e por uma das cinco tias, Arilda.

A mãe e a tia não se separam e, apesar de octogenárias, deverão botar ordem no Palácio da Alvorada, depois da posse da nova presidente, como as verdadeiras donas da casa por ali. Paula é mais reservada e trabalha como procuradora em Porto Alegre, mas também deve ser presença constante em Brasília.

Já no círculo político e de assessoras, há um enxame de mulheres, mas a proximidade se dá mais em função da decisão de Dilma de, em resposta aos mais de 55 milhões de votos dos que escolheram, pela primeira vez, uma mulher para governar o Brasil , dar uma marca feminina à sua gestão.

¿ A mulher mais importante da vida da Dilminha é a Paula, que é filha, depois eu, naturalmente, que lhe dei a vida. Toda filha escuta os conselhos da mãe, mas a Dilminha está grandinha, não precisa mais. Agora já é independente para resolver a vida dela ¿ diz dona Dilma Jane, de 86 anos.

Contente por ter uma capelinha no Alvorada, dona Dilma Jane diz que é preciso rezar todo dia para agradecer, mas que não é carola, de jeito nenhum! Odeia tricô e, para se distrair, lê e ouve música. Diz que pode ¿dirigir o Palácio¿ porque Dilminha ¿ só se refere à filha assim ¿ vai ter muita coisa para ocupar a cabeça no trabalho. Mas avisa que não dá conta de arrumar tudo sozinha porque já passou da idade de cuidar ¿de uma casa daquele tamanho¿. Uma coisa promete: vai enfeitar a nova residência com muitas flores e plantas.

Já o galinheiro que a atual primeira-dama, Marisa Leticia, mandou fazer no Alvorada, se depender das novas moradoras, não terá muito futuro.

¿ Galinheiro? Não sou muito ligadona em galinha, não! A Arilda se diverte com tudo, e eu gosto da lida na casa, coisa de gente caprichosa, deixar tudo limpinho, arrumadinho. Vamos deixar a casa bem bonitinha, botar muita flor para dar alegria.

Lugar muito grande é muito triste, né? ¿ diz dona Dilma Jane, antevendo a mudança de rotina no Palácio que será entregue às mulheres pelos próximos quatro anos.

`Vai governar com muitas mulheres¿

Saindo do Alvorada, a nova presidente também se cercará de mulheres. A petista histórica e assessora especial do presidente Lula, Clara Ant, continua com Dilma e também deverá funcionar como memória viva do dia a dia do Planalto. A jornalista Helena Chagas tem sido sua fiel escudeira, companhia mais constante nos últimos oito meses, e foi escalada para acompanhá-la na primeira viagem internacional como presidente eleita, em Seul. Ainda não se sabe se Helena substituirá o ministro Franklin Martins, na Comunicação do Planalto. O certo é que não arredará pé de perto da nova presidente. Na área de comunicação também deve continuar à frente da EBC a jornalista Tereza Cruvinel.

¿ Ela vai mesmo governar com muitas mulheres, se não, vai contrariar o discurso de presidente eleita, quando pediu as empresas para darem mais oportunidades às mulheres, como o povo brasileiro deu a ela ¿ comenta o presidente nacional do PT, José Eduardo Dutra.

No rol das ministeriáveis está a também amiga antiga Maria das Graças Foster, atualmente na diretoria da Petrobras e coringa de Dilma na área energética.

A senadora Ideli Salvati (PT-SC), derrotada na disputa pelo governo de Santa Catarina, não perdeu tempo e apareceu ao lado de Dilma e do presidente Lula na quinta-feira, na primeira entrevista coletiva dos dois no Planalto.

Manuela pode ir para Esportes

Dilma não deverá encher seu ministério de derrotados, mas, como prêmio de consolação, Ideli pode ganhar a Secretaria das Mulheres. O Ministério da Pesca, seu alvo, continuará com a corrente do PT ligada ao atual ministro, Altemir Gregolin.

No Twitter, desde que começou a especulação sobre a ida da deputada Manuela D¿Ávila (PCdoB-RS) para a equipe de Dilma, provavelmente substituindo o ministro Orlando Silva no Esporte, começaram a surgir maldades de internautas dizendo que a comunista seria a parte ¿bonita¿ do governo Dilma.

Manuela diz, entretanto, que louva a ampliação da cota das mulheres no topo do poder, só que não deve ser levado em conta apenas o gênero, mas a competência também. Manuela é lembrada ainda para uma pasta ligada à juventude.

¿ O maior símbolo da mulher no próximo governo é a própria eleição de Dilma como primeira mulher presidente do Brasil. A conclusão é que a nossa população está menos preconceituosa que nosso sistema político. Ao invés de ampliar a representação no Congresso, diminuímos de 44 parlamentares para 43. Dilma tem uma relação muito afetuosa com todas as suas parceiras na política ¿ disse Manuela D¿Ávila.

Antiga colaboradora da então ministra da Casa Civil, Miriam Belchior deverá continuar coordenando o PAC. A deputada Maria do Rosário (PT-RS), muito ligada ao governador eleito Tarso Genro (PT-RS), é outra que surge como ministeriável.

Completando o rol das mulheres, tem ainda as senadoras eleitas Gleisi Hoffman (PT-PR), Marta Suplicy (PT-SP) e Vanessa Graziotin (PCdoB-AM), além da presidente da Caixa Econômica Federal, Maria Fernanda Coelho. Essas, não se sabe ainda que destino terão no governo Dilma.

¿ Se eu for lembrada para algum cargo, ficarei muito feliz.

Se não, ficarei feliz do mesmo jeito ¿ diz Maria do Rosário.

COLABOROU: Fábio Fabrini