Título: Lula diz que lutará por reforma política
Autor: Gois, Chico de; Damé, Luiza
Fonte: O Globo, 05/11/2010, O País, p. 14
Presidente avisa que, fora do cargo, será um "leão" na briga por mudanças que não fez. Ministros adiam férias para inaugurar obras
BRASÍLIA. Às vésperas de deixar o governo, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva avisou ontem que, após passar a faixa à sucessora Dilma Rousseff, terá tempo para lutar como "um leão" pela aprovação da reforma política, que não fez em oitos anos de governo. Durante a campanha, Lula reclamou da usurpação de poderes do Legislativo pelo Poder Judiciário, em relação à regulamentação partidária eleitoral.
Presidente diz a ministros que não vai sugerir nomes
Durante a reunião ministerial ontem, no Palácio do Planalto, Lula deu outro recado para seus subordinados que, para alguns, deve ter caído como uma ducha de água fria. Lula afirmou que não vai sugerir à presidente eleita, Dilma Rousseff, qualquer nome para integrar o futuro Ministério. Ele também reforçou com seus auxiliares que nenhum ministro ou partido tem vaga assegurada na futura equipe de Dilma. Ao entrar na sala para a reunião, o presidente foi aplaudido de pé por seus auxiliares.
De acordo com o ministro de Relações Institucionais, Alexandre Padilha, Lula orientou sua equipe a concluir as discussões sobre projetos ou medidas que tenham divergências. Embora não tenha dito nominalmente, entre essas medidas estariam os marcos regulatórios da mineração e das comunicações. Antes de deixar o cargo, em 1º de janeiro, Lula deverá realizar outra reunião ministerial para fazer um balanço de tudo o que foi feito durante os seus dois mandatos. Padilha informou que o presidente vai registrar em cartório um documento listando tudo o que fez.
Lula iniciou a reunião informando aos ministros que eles terão de entregar os cargos em 31 de dezembro para deixar a mesa livre para Dilma.
- Não sei se vocês sabem que todos terão de me entregar o cargo no final do ano, que nós precisamos deixar esta mesa livre para que a nossa futura presidenta possa reconstruir os personagens que vão compor esta reunião - disse.
Padilha, em entrevista coletiva, afirmou que Lula deixou claro que não quer interferir no próximo governo.
- O presidente reafirmou que ele, enquanto presidente, não vai sugerir nem vetar qualquer nome para o próximo governo - disse Padilha. - Ele reafirmou que o próximo governo tem de ter a cara da presidente eleita, que é ela que tem de construir seu governo, com sua equipe de transição e sua coalizão política. E disse claramente que nenhum ministro ou partido tem vaga garantida no futuro Ministério.
Padilha disse que Lula adiantou aos ministros que, quando deixar o cargo, irá se dedicar à reforma política. Lula pretende, de acordo com o ministro, discutir o assunto no PT, e sugeriu aos ministros que façam o mesmo em seus partidos.
- O presidente disse que vai lutar como um leão pela reforma - relatou Padilha. - Ele quer atuar dentro do PT, mas buscar também o conjunto dos partidos aliados do governo hoje e que devem estar na base aliada da presidente eleita.
A intenção de Lula é que os partidos possam apresentar, no ano que vem, uma proposta de reforma política. O presidente, porém, não disse o que pretende da reforma. O ministro de Relações Institucionais também declarou que o governo quer concluir, ainda neste ano, a votação do pré-sal e do Orçamento de 2011, cujo relatório de receitas foi aprovado ontem.
Segundo Padilha, Lula cobrou dos ministros empenho nos dois últimos meses de governo. Ele quer que seus auxiliares façam uma lista de obras para inaugurar, entre elas a revitalização do Rio São Francisco, escolas técnicas e usinas hidrelétricas. O presidente proibiu seus auxiliares de saírem de férias até o fim do ano. Lula também pediu empenho dos ministros para que a transição se dê de forma tranquila. Ele ordenou que as informações sejam repassadas à equipe de Dilma com celeridade. Cerca de 50 pessoas que atuaram na campanha da petista serão nomeadas para participar da equipe de transição.