Título: Saúde pública vira refém da política eleitoral
Autor: Mascarenhas, Gabriel ; Bottari, Elenilce
Fonte: O Globo, 07/11/2010, Rio, p. 33

Cerca de 20 centros sociais mantidos por políticos tinham até encaminhamentos para exames e internações

Os currais eleitorais do estado podem estar no cerne da grave crise da rede pública de saúde do Rio. Durante operações realizadas nos últimos meses pela fiscalização do Tribunal Regional Eleitoral (TRE) do Rio, a partir investigações realizadas pelos promotores eleitorais do estado em apoio à Procuradoria Regional Eleitoral, em cerca de 20 centros sociais mantidos por políticos no Rio, foram apreendidos documentos internos da rede pública, como encaminhamentos para a realização de exames e até de internações. Além disso, em pelo menos três centros estourados foram apreendidos medicamentos e equipamentos hospitalares pertencentes ao Ministério da Saúde.

Entre os políticos que foram denunciados pelo Ministério Público Eleitoral e que respondem a processos por abuso de poder econômico e conduta vedada (uso de recursos públicos em campanhas) estão os deputados Dionísio Lins, Jorge Babu e Domingos Brazão, o candidato William Coelho e a vereadora Lucinha.

Para a procuradora da República Silvana Batini, que esteve à frente da Procuradoria Regional Eleitoral nos últimos dois anos, os centros sociais tornaramse um entrave no desenvolvimento de políticas públicas, tornando a saúde do estado refém da política eleitoral.

¿ O assistencialismo político já tinha sido uma preocupação na eleição de 2008, mas, na ocasião, não houve condições de se enfrentar de forma sistêmica o problema. Nestas eleições, isso nos surpreendeu. A influência que esses centros sociais exercem no eleitorado e nos destinos políticos do estado está provocando um atraso na rede.

Segundo a procuradora, as operações revelaram ainda que em alguns casos, apesar não terem atuação na área de saúde, parlamentares exploram a carência pública para aparecerem como benfeitores.

¿ Se você for examinar a trajetória daquele político, ele não tem nenhuma expressão na área de saúde pública. Pelo contrário.

Quando ele se interessa pelas carências é para explorar isso através de seu próprio centro social. E pior: com recurso público ¿ diz ela.