Título: MEC: nova prova inviabilizaria uso do Enem
Autor: Weber, Demétrio
Fonte: O Globo, 12/11/2010, O País, p. 14

Ministro diz a estudantes que Inep levaria de 60 a 90 dias para fazer novo teste; AGU entra com recurso em Pernambuco

BRASÍLIA. O ministro da Educação, Fernando Haddad, disse ontem a representantes da UNE (União Nacional do Estudantes) e da Ubes (União Brasileira dos Estudantes Secundaristas) que não há como reaplicar o Enem a todos os participantes este ano sem comprometer o primeiro semestre letivo nas universidades federais e estaduais onde o Enem substituirá o vestibular. Segundo o MEC, seriam necessários entre 60 e 90 dias para organizar um novo exame de caráter geral, o que levaria o início aulas para maio.

O MEC quer realizar um novo exame somente para um grupo restrito de participantes cujas provas tinham erros de impressão. Inicialmente, o MEC divulgou que esse número poderia chegar a 2 mil pessoas. Haddad disse que até ontem, porém, só foram identificados 200 candidatos nessa situação, segundo relato dos presidentes da UNE, Augusto Chagas, e da Ubes, Yann Evanovick, que estiveram com o ministro.

Chagas admitiu que o atraso no calendário acadêmico é uma preocupação, mas defendeu a realização de novo exame opcional para todos os participantes que se sentiram prejudicados com os erros do Inep:

- Se (atrasar o calendário) for a única alternativa, aí não há como fugir, vamos ter que arcar com o ônus desse problema e ter que realizar o novo Enem.

MEC pede desculpas por ameaças via Twitter

A UNE e a Ubes são contra a anulação do Enem de 2010, mas discordam da proposta do MEC de só refazer a prova para quem recebeu e não teve substituído a tempo o caderno amarelo com questões duplicadas ou a menos. Para Chagas, a inversão no cabeçalho das folhas de resposta, problema que atingiu a todos os participantes, e a confusão decorrente de informações contraditórias repassadas por fiscais de prova, também são motivo para a repetição do teste. As duas entidades entendem, no entanto, que quem foi avisado a tempo e quiser manter a nota também deve ser atendido.

As entidades entregaram a Haddad cópia de cerca de 1,1 mil e-mails com reclamações de estudantes. Segundo Chagas e Evanovick, o ministro pediu desculpas pelos erros no Enem e pela mensagem postada no Twitter pela assessoria de Comunicação do MEC, domingo, ameaçando processar candidatos. Ontem à noite, foi postado pedido de desculpas: "A Assessoria de Comunicação Social do MEC se desculpa pelos termos pouco elegantes usados na rede social durante o Enem."

Ontem, a Advocacia-Geral da União (AGU) protocolou recurso contra a liminar no Tribunal Regional Federal da 5ª Região, em Recife, que suspendeu o exame. A AGU enviou também pedido de reconsideração à juíza Karla Almeida Maia, com explicações técnicas sobre o Enem e a chamada Teoria de Resposta ao Item (TRI). O argumento da AGU e do Ministério da Educação é que a TRI garante igualdade de condições ao grupo restrito de participantes que refizer a prova. O temor de quebra de isonomia, no caso de apenas alguns candidatos refazerem o teste, deu base à liminar que suspendeu o Enem. Segundo o MEC, a TRI permite que diferentes provas tenham o mesmo grau de dificuldade.

O coordenador residente da Organização das Nações Unidas (ONU) no Brasil, Jorge Chediek, divulgou nota ontem em defesa da TRI e do embasamento científico que diz que esse tipo de metodologia permite a realização de provas distintas com mesmo grau de dificuldade. A nota foi redistribuída à imprensa pelo MEC, pois reforça a tese de que o Enem pode ser reaplicado a uma parcela restrita sem quebra de isonomia.

O Enem 2010 será adotado em substituição ao vestibular por 82 instituições de ensino superior, sendo 39 universidades federais, 38 institutos federais de educação profissional e tecnológica (Ifets) e 5 universidades estaduais, segundo o MEC. Elas se dispõem a preencher 82,6 mil vagas por meio do Sistema de Seleção Unificada (Sisu), que adota o Enem como prova única.