Título: Cada um por si
Autor: Alvarez, Regina
Fonte: O Globo, 12/11/2010, Economia, p. 24
Os resultados da cúpula do G-20 serão conhecidos hoje, mas não há expectativa de grandes avanços na pauta mais importante, que é a guerra cambial. Um comunicado com recomendações genéricas para que os países caminhem na direção de uma taxa de câmbio determinada pelo mercado, sem deixar claro como se reverte o atual quadro de desequilíbrio, é o mais provável.
Em nome da soberania, Estados Unidos e China ¿ as duas potências que estão no centro do problema cambial ¿ evitam sancionar compromissos que interfiram nas suas políticas internas.
A China resiste a qualquer imposição de fora para a valorização do yuan, e os Estados Unidos continuam a sustentar que o derrame de liquidez na economia americana é a receita adequada para reanimá-la.
Ao contrário de 2008, quando a ação coordenada do G-20 teve importante papel no esforço para sair da crise global, agora o que prevalece é o ¿cada um por si¿, e o Brasil está no meio do tiroteio.
¿ O grande problema é decidir essa governança.
Que país se disporia a abrir mão de sua soberania na condução da política monetária? ¿ pergunta o economista Gustavo Loyola, ex-presidente do Banco Central.
Neste momento, apesar dos discursos que condenam a guerra cambial no mundo e alertam para os riscos de ¿desequilíbrios externos insustentáveis¿, os países estão olhando para dentro de suas economias, inclusive o Brasil, embora o presidente Lula tenha dito o contrário em Seul, ao declarar que estava mais preocupado com a desvalorização do dólar do que com a valorização do real.
Os discursos duros de Lula e do ministro Mantega, com críticas aos EUA e à China, não interferiram nos rumos da cúpula do G-20, mas contribuíram para marcar a posição do Brasil favorável ao câmbio flutuante e a uma postura mais ética no comércio internacional.
Conhecido o resultado da cúpula e frustradas as expectativas de um comando efetivo do G-20 para frear a guerra cambial, o Brasil pode ficar mais à vontade para adotar medidas prudenciais capazes de frear o fluxo excessivo de dólares na nossa economia ou mesmo a entrada de produtos chineses barateados artificialmente.
Se os grandes só estão olhando para o seu umbigo, por que não faríamos o mesmo?