Título: Caixa busca comprador para os 51% restantes do Banco PanAmericano
Autor: Doca, Geralda
Fonte: O Globo, 12/11/2010, Economia, p. 24
Objetivo é restaurar a credibilidade da instituição, mas decisão será política BRASÍLIA. A Caixa Econômica Federal não deverá acionar judicialmente as empresas contratadas para auditar o PanAmericano (Banco Fator, KPMG e BDO Consultores) e que não detectaram a maquiagem de R$ 2,5 bilhões no balanço da instituição.
Apesar de legalmente ter esta prerrogativa, a avaliação é que o episódio ainda não gerou prejuízos para a Caixa. No momento, o foco é achar um comprador para os 51% restantes do PanAmericano, já que o Grupo Silvio Santos terá de pôr o ativo à venda para pagar o empréstimo concedido pelo Fundo Garantidor de Crédito (FGC).
¿ Essa hipótese (judicial) não está descartada, porém, salvo algum fato novo e relevante, não creio que isso venha a ocorrer, uma vez que, até este momento, não se configurou prejuízo para a Caixa. Isso porque o Grupo SS bancou o empréstimo para recomposição do patrimônio do banco. Há os efeitos colaterais, como a queda das ações e perda de credibilidade. Mas isso não é um processo irreversível ¿ afirmou uma fonte.
A venda, a ser negociada pela nova diretoria do PanAmericano, da qual a Caixa faz parte, tem também como objetivo restaurar a credibilidade, principal ativo de um banco. No entanto, segundo fontes envolvidas, a decisão sobre o que fazer será política e extrapola as esferas da Caixa.
¿ No momento, não existe a hipótese de a Caixa vender sua participação. O fato de o banco ser acionista é uma segurança para um eventual investidor privado.
Se o Grupo SS cumprir o que foi acordado, não haverá prejuízo para acionistas ¿ explicou uma fonte.
Para o presidente da EFC Engenheiros Financeiros & Consultores, Carlos Coradi, a melhor solução teria sido a liquidação do PanAmericano pelo Banco Central. No entanto, como a Caixa está envolvida, ele disse acreditar que o governo mantenha o banco funcionando.
Mas não será fácil, segundo ele, encontrar um comprador para a parte do Grupo SS. O BC discorda da avaliação.
¿ Ninguém sabe o tamanho do buraco e vender uma instituição com problema é uma tarefa muito difícil ¿ argumentou Coradi, citando os exemplos do Sudameris, que comprou o Banco América do Sul, e do Bandeirante, que levou o Banorte, e que acabaram sendo vendidos.
Por e-mail, a Caixa não esclareceu totalmente seu posicionamento em relação às auditorias.
Afirma que ¿o BC verificou inconsistências e a Caixa adotará as medidas legais cabíveis¿, mas não diz claramente o que significam tais medidas.
Na nota, a instituição reafirma ¿a importância estratégica desta parceria (com o PanAmericano), a qual proporcionará a ampliação da sua base de clientes¿, uma vez que o banco controlado pelo Grupo SS tem ¿mais de 20 mil canais de venda¿ e ¿200 lojas próprias¿, permitindo ¿a implementação de um modelo de negócio aderente aos objetivos e às políticas de mercado da Caixa¿.
Caixa não recorreu a auditores internos
Nacional dos Auditores Internos, na compra de parte do PanAmericano, a Caixa não seguiu a recomendação de solicitar ao seu corpo técnico uma avaliação prévia de aquisições. O alerta foi disparado pela entidade em 2008, numa nota à sociedade, quando foi editada a medida provisória (MP) 443, que abriu a possibilidade de as instituições financeiras públicas comprarem empresas sem autorização prévia do Congresso Nacional.
O objetivo, segundo o texto divulgado na época, era aumentar a segurança nas operações para evitar maus negócios. A consulta da direção da Caixa a seus auditores internos não é obrigatória. Procurada ontem para comentar a questão, a Caixa não respondeu ao GLOBO. A compra parcial do PanAmericano foi a primeira aquisição da CaixaPar, criada no bojo da MP, durante a crise financeira internacional, quando bancos nacionais de menor porte passaram a ter problemas de solvência.
No texto, a associação dos auditores lembrou a compra de carteiras do Econômico e do Nacional sem validação da auditoria interna da instituição pública e as consequências disso para a Caixa: ¿(...) ensejou grandes dificuldades econômicas para a Caixa, e determinou, para o governo, a necessidade de realizar uma segregação de ativos, considerados de baixa qualidade, por meio da criação, em 2001, da Empresa Gestora de Ativos (Emgea), a qual já demandou aporte de capital da União de cerca de R$ 20 bilhões.¿ Por isso, a entidade dizia estar indo a público naquela ocasião para alertar que era necessário, no âmbito das possibilidades abertas pela MP 443, que os bancos públicos atuassem com o máximo de critério e rigor nas avaliações de novas aquisições.
Segundo fontes, a equipe de auditores internos da Caixa tem competência técnica e poderia ter sido solicitada a analisar os números do PanAmericano. Mas a instituição contratou apenas auditoria externa. Só posteriormente, depois que o negócio foi fechado, é que a Caixa teria determinado à sua equipe fazer uma avaliação do negócio. O trabalho, no entanto, segundo fontes, já teria poucos efeitos.
Procurada, a assessoria da Caixa informou apenas que auditores internos fizeram uma análise da compra e que a avaliação foi favorável.