Título: Para Lula, divergências não são sinais de enfraquecimento do G-20
Autor: Duarte, Fernando; Lima, Maria
Fonte: O Globo, 12/11/2010, Economia, p. 27

Presidente reforça críticas aos EUA e diz que o Brasil está fazendo a sua parte SEUL (Coreia do Sul). O presidente Luiz Inácio Lula da Silva disse ontem que, ao contrário do que afirmam alguns analistas, as divergências entre os países do G-20 (grupo das 20 maiores economias do mundo) não indicam um enfraquecimento do bloco como foro de discussão. Numa entrevista antes do jantar de abertura da reunião de cúpula do grupo em Seul, o presidente brasileiro afirmou que não se pode ter medo de discordâncias.

¿ Temos divergências desde o primeiro dia de reuniões do G-20. Não pode haver medo de se sentar à mesa quando participantes divergem ¿ disse Lula. ¿ Os países emergentes, por exemplo, não foram culpados por uma crise, e sim vítimas, mas não se recusaram a vir debater. Temos que colocar cada divergência na mesa para consertar.

Na conversa com jornalistas, que surpreendeu pela ausência da presidente eleita, Dilma Rousseff, Lula reforçou as críticas à política econômica dos EUA feitas anteontem pelo ministro da Fazenda, Guido Mantega, que também participou da entrevista.

Indagado sobre a ausência da presidente eleita, Lula disse que ¿o governo da Dilma só começa no próximo quadriênio¿.

¿ Os EUA têm uma posição de contradição entre a necessidade de o povo consumir mais para ajudar o comércio mundial e a visão do governo de que o povo americano não vai voltar a consumir se endividando como antigamente ¿ disse Lula. ¿ Trabalha-se para que o povo americano não consuma. Mas os EUA hoje também têm com o Brasil seu maior superávit de comércio internacional. O presidente Obama tem que saber disso. Queremos reciprocidade.

Dilma critica protecionismo disfarçado de dólar e yuan

Indagado sobre possíveis medidas de retaliação para evitar a valorização do real, Lula afirmou que nas discussões de hoje argumentará que o Brasil está fazendo sua parte na contribuição para a estabilização da economia mundial.

¿ Estamos menos preocupados com as medidas para desvalorizar o real e mais com as medidas que os EUA têm que tomar para valorizar o dólar.

Não dá para continuar do jeito que está. Se os países mais ricos não estão consumindo a contento e todos querem lastrear suas economias nas exportações, o mundo vai à falência. Se todo mundo só quiser vender, como é que fica o Ceará? ¿ brincou o presidente, que tinha na plateia o governador do estado nordestino, Cid Gomes.

Essa conjuntura, segundo Lula, obrigará Dilma e seus ministros a manterem a rotina de viagens internacionais que marcou os dois mandatos de Lula: ¿ Fomentar o comércio internacional será uma tarefa extraordinária para o próximo governo.

Será preciso viajar mais, colocar ministros para viajar mais e vender mais produtos.

Em seu pronunciamento oficial no jantar do G-20, Lula conclamou os demais líderes a reviverem o espírito de solidariedade e cooperação do primeiro encontro do G-20, há dois anos. Dilma, por sua vez, defendeu medidas para conter o que chamou de protecionismo disfarçado com a desvalorização do dólar e do yuan: ¿ Até o Alan Greenspan (expresidente do banco central americano) está falando. A política do dólar fraco faz com que o ajuste americano fique na conta de outras economias ¿ afirmou