Título: Lula, o fiador vitorioso, porém solitário, do projeto Dilma lá
Autor: Casado, José
Fonte: O Globo, 01/11/2010, O País, p. 12

Nas asas de uma popularidade recorde, presidente elege desconhecida como sucessora Ele foi o grande vencedor. Luiz Inácio Lula da Silva, ontem, se converteu no primeiro presidente da História republicana a eleger o sucessor e a exibir um projeto de poder ¿ oito semanas antes de se despedir do segundo mandato no Palácio do Planalto.

Não é pouco: ¿ Quando eu completei 65 anos de idade (quatro dias atrás), eu falei: ¿Tudo o que vier para mim, depois, é lucro!¿ A eleição da sucessora Dilma Rousseff é o resultado do seu carisma e experiência, lapidados em 21 anos de campanhas presidenciais e polidos em uma custosa estrutura de propaganda (gasto médio oficial de R$ 1 milhão por dia).

O resultado, ainda que em margens inferiores às projeções otimistas feitas pelo presidente aos assessores nesta semana, é uma reafirmação da sua influência política, consolidada na reeleição de 2006, quando somou 58 milhões de votos (60,8% dos válidos) e descolou-se do seu partido, o PT.

Lula tem reiterado a disposição de, a partir de janeiro, se manter no papel de condutor dessa força eleitoral que alguns chamam ¿lulismo¿ e ele define como ¿movimento¿ popular.

¿ Eles (da oposição) não sabem o que é ser popular ¿ repetiu nos últimos comícios ¿ porque nunca estiveram perto do povo e aí confundem populismo com popular.

No papel de ex-presidente, seu novo desafio será se manter no centro da cena política. Até porque pode acabar surpreendido pela solidão em São Bernardo do Campo (SP). E, caso consiga continuar protagonista, vai precisar conter o arrebatamento para não ofuscar a sucessora em um cenário novo, complexo e delicado até pelo tom radical adotado durante a campanha.

Foi o embate eleitoral mais radicalizado desde 1989 , quando Lula disputou o poder central pela primeira vez e perdeu para Fernando Collor, o presidente que ajudou a derrubar dois anos depois.

Desde a montagem da candidatura de Dilma até a vitória de ontem nas urnas, Lula atuou com radicalismo.

Ele escolheu sozinho e impôs Dilma ao Partido dos Trabalhadores.

Determinou seus candidatos em cada estado, obrigou outros pretendentes à renúncia e ajudou a derrotar os que resistiram em diferentes partidos aliados. Produziu, dirigiu e assumiu o papel de protagonista onipresente na campanha. Engajou o governo no comitê partidário e, empenhado num acerto de contas político, dividiu o país em dois palanques ¿ o dele e o daqueles a quem tratou como inimigos.