Título: Hora de juntar os cacos e abrir diálogo
Autor: Camarotti, Gerson
Fonte: O Globo, 01/11/2010, O País, p. 20

Presidente eleita tentará construir ambiente de trégua nos seis primeiros meses de governo, após campanha tensa

BRASÍLIA. A presidente eleita, Dilma Rousseff, deve atuar em três frentes prioritárias para resolver sequelas políticas da eleição: tentar criar um ambiente de unidade nacional e pacificação dos ânimos com a oposição; curar feridas dos aliados; e afastar do seu governo a sombra de denúncias de irregularidades que surgiram ao longo da campanha eleitoral. Dilma tentará construir um ambiente de trégua nos seis primeiros meses de governo.

¿ Não acho que este cenário belicoso vai ser prorrogado.

Quem ganha a eleição tem que fazer um discurso dizendo que é presidente de todos os brasileiros e descer do palanque.

Além disso, a nossa coligação tem uma maioria muito confortável, o que vai permitir um ambiente de diálogo político ¿ afirmou o presidente do PT, José Eduardo Dutra.

¿ Quem ganha sempre tem que ser magnânimo. Dilma agora vai pensar no Brasil dos próximos quatro anos. Acabou a campanha. E, para quem ganha, não tem problema. A história é contada pelos vencedores ¿ disse o líder do governo e coordenador da campanha, Cândido Vaccarezza (PT-SP).

Num primeiro momento, Dilma deve fazer um gesto para aliados que ficaram magoados.

É o caso dos senadores Alfredo Nascimento (PR) e Hélio Costa (PMDB), que perderam a eleição para os governos do Amazonas e de Minas, respectivamente.

A presidente eleita terá que juntar os cacos também no PT, principalmente em Minas Gerais. Depois da intervenção direta do presidente Lula, o PT mineiro teve que abrir mão de uma candidatura própria para apoiar Hélio Costa. Internamente, o partido estava rachado entre os grupos do ex-prefeito de Belo Horizonte Fernando Pimentel e do ex-ministro do Desenvolvimento Social Patrus Ananias.

¿ Ferida se cura com o tempo e com lambidas. Temos que tratar de alguns problemas com aliados, como PMDB e PR, e com o próprio partido. O PT de Minas terá de passar por um processo de reaglutinação de forças. Do ponto de vista interno, o que mais preocupa é Minas, por causa de um cenário de conflitos ¿ reconheceu Dutra.

Além disso, a ordem é isolar questões incômodas do cenário político neste pós-eleição.

A principal delas é o escândalo de tráfico de influência envolvendo a ex-ministra da Casa Civil Erenice Guerra. A vacina para isolar Erenice de Dilma foi dada pelo presidente Lula e pela própria candidata durante a campanha. E isolada ela continuará. Erenice foi a principal auxiliar de Dilma ao longo do governo, e a avaliação dos próprios petistas é que o episódio deixou a presidente eleita mais refém do partido e do próprio Lula.

Já em relação a outro escândalo da campanha, a quebra de sigilo fiscal de tucanos, a avaliação do comando da campanha de Dilma é que o episódio perderá fôlego. No PT, a constatação é que durante o período eleitoral o assunto já tinha deixado de ser o foco da campanha de Serra.

Acreditam que a notícia estava saturada, sem repercussão nos índices de intenções de voto, e que, portanto, não voltará com força no pós-eleitoral