Título: Ampliar investimentos é o maior desafio
Autor: Pauda, Jucimara de
Fonte: O Globo, 01/11/2010, O País, p. 21

Gastos e juros são obstáculos ao crescimento do país, dizem especialistas

A nova presidente do país, Dilma Rousseff, tomará posse com o país em um de seus melhores momentos econômicos em décadas, mas terá de enfrentar, em seu mandato até 2014, diversos desafios e uma conjuntura internacional menos favorável do que a da gestão de Luiz Inácio Lula da Silva. Aumentar fortemente os investimentos, reduzir os juros, controlar a expansão dos gastos públicos e encontrar uma nova solução para a questão cambial em meio a uma verdadeira guerra global entre moedas estão entre os principais temas da agenda econômica.

O economista Joaquim Elói Cirne de Toledo, professor da USP, afirma que o grande desafio da nova presidente será ampliar o investimento público, fundamental para fortalecer a infraestrutura e, assim, dar maior competitividade ao país. Ele lembra que o patamar de investimento foi baixo nos governos dos dois últimos presidentes.

¿ No governo de Fernando Henrique, o investimento representava cerca de 1% do PIB, agora está um pouco acima disso. É preciso ampliar este valor de forma significativa ¿ disse.

Em sua opinião, o cenário externo não será tão favorável à Dilma, por causa da fraca situação econômica dos países desenvolvidos, mas ele estima que a China continuará crescendo fortemente, e com isso os preços das commodities ¿ produtos básicos com cotação de preço global, como minério de ferro e soja ¿ continuarão elevados, favorecendo as exportações brasileiras: ¿ A China deve desacelerar um pouco. Em vez de crescer 11%, crescerá 8,5%. É como um carro que, em vez de viajar a 200 km/hora, passa a viajar a 180 km/h ¿ comparou Toledo.

Desafio de novo cenário é abundância de dólares O economista Antônio Correa de Lacerda acredita que o novo governo deverá adaptar o país a um novo cenário, totalmente diferente do que foi observado nos últimos anos. Ele diz que as políticas cambial e monetária terão que enfrentar o desafio de um longo período de abundância de dólares, ao contrário da escassez comum até meados da década: ¿ O novo presidente vai assumir o país em meio a uma verdadeira guerra cambial e precisa se adaptar a isso. Nesse cenário, precisa trazer a taxa de câmbio a um patamar mais próximo da média mundial.

Já o professor Fábio Kanzuc, da USP, é mais pessimista e acredita que a alta dos gastos públicos trará problemas fiscais que, combinados com o elevado déficit em conta corrente, levarão o país a um desequilíbrio e crescimento medíocre.

¿ A China estará mais lenta, e o mundo, em uma guerra cambial.

O Brasil está gastando muito.

Isso não é sustentável. O crescimento será menor que o dos últimos anos ¿ disse.

O economista Alcides Leite, da Trevisan Escola de Negócios, acha que o atual modelo do país está se esgotando. Ele diz que, se o governo estabelecer como meta investir 25% do PIB em quatro anos ¿ atualmente a taxa está abaixo de 20% do PIB ¿, os juros futuros cairão e haverá melhor espaço fiscal.

¿ A Itália tem uma dívida duas vezes maior que a do Brasil, em relação ao PIB, mas gasta metade do que gastamos, também em relação ao PIB, com o serviço da dívida. Se indicarmos aumento dos investimentos, os juros caem. E fica mais fácil ampliar investimentos ¿ disse.