Título: Não me lembro de ver tanto interesse pelo Brasil
Autor: Pauda, Jucimara de
Fonte: O Globo, 01/11/2010, O País, p. 21

O economista-chefe do Bradesco está otimista e crê que o país poderá crescer a taxas de 5% nos próximos anos. Octavio de Barros ¿ apontado por muitos como possível nome para a presidência do Banco Central no governo Dilma ¿ ressalta desafios como a reforma tributária, gastos públicos, educação e infraestrutura.

Henrique Gomes Batista

O GLOBO: Como o senhor vê o cenário econômico nacional para o próximo governo? OCTAVIO DE BARROS: O próximo presidente encontrará um país que avançou muito nos últimos 16 anos, está mais previsível em termos macroeconômicos, tem notável mobilidade social sem similar no mundo atual e está mais inserido na economia global. Mas encontrará um país com muitos desafios, sobretudo nas áreas de educação e infraestrutura. As oportunidades estão à mesa. Cito o pré-sal e os eventos esportivos de 2014 e 2016, além da percepção de que o Brasil é um ótimo lugar para investir. Na minha carreira como economista, não me lembro de ter visto antes tanto interesse de investidores estrangeiros pelo país como agora.

E o cenário mundial? BARROS: Pelo menos no médio prazo, deveremos ter um cenário de crescimento relativamente fraco dos países desenvolvidos, em um contexto de forte ajuste fiscal previsto, em especial na Europa, e mercado de trabalho deprimido.

A segunda fase de afrouxamento quantitativo do Federal Reserve (o BC americano) deverá contribuir para manter a liquidez internacional elevada e, em um primeiro momento, manter o dólar depreciado. Mais para frente, o novo afrouxamento monetário e a prorrogação de corte de impostos nos EUA poderão gerar algum ganho para o dólar. Nos países emergentes observaremos alguma desaceleração, mas o crescimento continuará forte. A China continuará a crescer em ritmo robusto, em torno de 8,5%, o que deve manter os preços das commodities em elevação. A retomada lenta dos países desenvolvidos e a perda de valor do dólar deverão aumentar a concorrência por mercados em expansão, como o Brasil.

Qual é o principal desafio do novo governo? BARROS: Não vejo apenas um desafio, mas vários. É necessário aumentar a eficiência da economia brasileira, em todas as esferas. Mas isso tem de ser feito sem retrocessos. A busca por eficiência passa pela retomada da agenda microeconômica, o endereçamento da reforma tributária, a limitação do crescimento dos gastos públicos em ritmo inferior à expansão do PIB nominal, a melhora da qualidade da educação e investimentos em infraestrutura. Isso pode ser potencializado com uma economia mais flexível e ágil, inovadora e com um mercado de capitais forte. Vislumbramos um crescimento médio de 5% para o Brasil nos próximos dez anos, mas essa taxa pode ser maior com essas lições de casa feitas.