Título: Um partido, dois candidatos
Autor: Tahan, Lilian
Fonte: Correio Braziliense, 12/07/2009, Cidades, p. 37

Agnelo e Magela disputam vaga do PT na corrida ao GDF. Apesar do embate, ambos admitem que um racha na legenda só trará prejuízos. Militantes petistas, uma das grandes forças do partido: o cabeça da chapa deve ser escolhido nas prévias, marcadas para o início do próximo ano

Os dois têm como mentor político o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, consideram-se determinados, até aceitariam fazer uma coligação com o PMDB num eventual segundo turno das eleições, são do PT e querem ocupar a mesma vaga: a de candidato do Partido dos Trabalhadores ao governo do Distrito Federal em 2010. Os discursos de Agnelo Queiroz e Geraldo Magela ¿ que se colocam como os representantes mais prováveis da esquerda nas próximas eleições ¿ sinalizam que o embate no PT pela cabeça de chapa está longe do fim e deve ser resolvido mesmo nas prévias, no início do ano que vem.

Em entrevista ao Correio na última quinta-feira, o diretor da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) Agnelo Queiroz e o deputado federal Geraldo Magela asseguraram que estão preparados para ocupar a cadeira de governador e não demonstraram disposição para ceder. Nesta altura do campeonato, nenhum dos dois aceita disputar a eleição para o Senado Federal.

Ambos, no entanto, admitiram que o racha no partido pode inviabilizar qualquer possibilidade de vencer as próximas eleições. ¿A unidade é um requisito para a vitória¿, disse Agnelo. E, em outras palavras, Magela confirmou o raciocínio: ¿o maior problema que o PT tem hoje é a falta de unidade¿.

A despeito de concordarem com o desgaste que a disputa interna pode resultar para qualquer uma das duas candidaturas do PT, os dois petistas se lançaram como pré-candidatos ao governo nos últimos dias. Cada um com a parte da militância que lhe cabe. Leia abaixo a íntegra das duas entrevistas.

{ Entrevista } geraldo magela O desafio da união Hiram Vargas/Esp/CB/D.A Press - 5/9/08

Eu tenho convicção de que vou vencer as prévias. A militância do PT está ao meu lado¿

Quem é Geraldo Magela? Sou bancário de profissão, deputado federal no segundo mandato, já fui deputado distrital por duas vezes, presidente da Câmara Legislativa, secretário de Habitação do DF e presidi a Confederação Parlamentar das Américas. Hoje sou o relator-geral do orçamento do governo federal.

Quem Magela pretende ser? Governador do DF. É o meu objetivo político.

Quem é o principal adversário do senhor para conquistar esse objetivo? É muito difícil falar quem é o adversário, no início da campanha pode ser um e no fim, outro. Mas identifico que o maior problema que o PT tem hoje é a falta de unidade. Quando o partido está unido, ele é forte. Quando não está, aí é fraco. Meu maior desafio é unir o PT.

Existe alguma chance de o PT se coligar com o PMDB para as próximas eleições? No primeiro turno, não há a menor possibilidade de o PT abrir mão da candidatura a governador, já que temos dois nomes que se propõem a fazer essa disputa e que têm o apoio popular. E o PT tem pelo menos um quarto dos votos no DF. Qualquer coligação com o PMDB, na minha avaliação, deve vir no segundo turno, se o PMDB apoiar a ministra Dilma Rousseff para a presidência.

E uma coligação com Roriz, é possível? No primeiro turno, de jeito nenhum. Se nós estivermos no segundo turno, vamos buscar ampliar as alianças indistintamente.

A qualidade de Magela Obstinação, determinação, vontade de vencer.

E o defeito É muito difícil nos autoavaliarmos, eu procuro fazer isso sempre. Mas prefiro deixar os meus adversários com essa missão.

O principal problema na cidade A violência urbana. Hoje, a população é refém dessa instabilidade. Além disso, o tráfico de drogas ainda é um problema sem combate eficaz no DF.

Um avanço nos últimos três anos Considero o trabalho pela legalização da ocupação do solo uma virtude do atual governo. É um avanço que, mesmo na condição de adversário do governador, é impossível deixar de reconhecer.

Quem são os mentores intelectuais do senhor? Tenho referências filosóficas e ideológicas como Gandhi, Martin Luther King, Nelson Mandela. Na política, a grande referência é o presidente Lula, porque ele atua sem deixar adversários pelo caminho, conciliando com todas as tendências.

Alguma referência na política local? Não considero que exista nenhuma grande liderança que possa ser tomada como referência.

Alguma chance de concorrer ao Senado? Neste momento, estamos todos envolvidos com a indicação para a candidatura a governador e tenho convicção de que vou vencer as prévias. A militância do PT está ao meu lado. Por isso, não há qualquer chance de aventar outras possibilidades a não ser a candidatura ao governo.

Um livro que o senhor esteja lendo Nenhum, nem sequer os jornais tenho lido direito. Estive envolvido com a reforma da legislação eleitoral, o orçamento e a disputa interna. Não tem sobrado tempo para o lazer e a cultura.

{ Entrevista } agnelo queiroz Causa pública como vocação Iano Andrade/CB/D.A Press - 14/9/06

Tenho apoio do diretório e de 90% das correntes e forças políticas do PT para ser o candidato¿

Quem é Agnelo Queiroz ? Um médico, militante político já antigo cidade, fui deputado distrital, deputado federal por três mandatos, ministro de Estado. Sou um político de esquerda que tem como vocação a causa pública e o desenvolvimento humano.

Quem o Agnelo pretende ser? Em curto prazo, quero realizar essa vocação. Eu me sinto absolutamente preparado para governar o DF.

Quem é o principal adversário do senhor para conquistar esse objetivo? Essa é uma etapa que deveria estar resolvida dentro do partido, porque tenho apoio do diretório e de 90% das correntes e forças políticas do PT para ser o candidato. O único impedimento é ainda não ter a unidade total, que é um requisito para a vitória. E a liderança que ainda mantém o nome para o governo, a despeito de todas as oportunidades para que se tornasse o candidato oficial, é o Magela. Mas acho que a gente vai resolver isso o mais rápido possível e construir a unidade necessária.

Existe alguma chance de o PT se coligar com o PMDB para as próximas eleições? Em tese sim, já que no plano federal nós estamos com o PMDB. Mas no DF o grau de dificuldade é muito maior porque o partido está com o DEM. E a nossa candidatura aqui tem que ter a nitidez de defender para a cidade a mesma concepção que o presidente Lula tem para o plano federal.

E uma coligação com Roriz, é possível? (Silêncio) É preciso que haja primeiro uma definição interna do que vai acontecer com o ex-governador. Se o PMDB vai ficar com ele ou não. Mas a candidatura do PT ao governo está aberta a todo o leque de alianças que participam da coligação nacional.

A qualidade de Agnelo (Risos) É o tipo da coisa que é bom as outras pessoas dizerem. Mas eu diria que é saber ouvir, determinação. Acho que é um profundo respeito pelo ser humano.

O defeito (Pausa) Vou ver um defeito que não fique muito chato¿ em alguns momentos, uma certa teimosia.

O principal problema na cidade O desmonte da saúde pública, colocando em risco a vida de milhares de pessoas.

Um avanço nos últimos três anos (Pausa) Tenho grande dificuldade em identificar avanço nesta gestão, mas reconheço que é um governo que faz muita obra física. Mas o outro também fazia.

Quem são os mentores intelectuais do senhor? Tanta gente¿ Mas do ponto de vista político, eu diria que é o Lula, tenho profundo respeito por ele.

Alguma referência na política local? Juscelino Kubitschek. É uma liderança que, mesmo sendo nacional, tem um grande significado para Brasília.

Alguma chance de concorrer ao Senado? Hoje não mais.

Um livro que o senhor esteja lendo (Pausa) O do Barack Obama (presidente dos Estados Unidos)¿ um que é assinado por ele mesmo.