Título: Um novo estilo à frente do Alvorada
Autor: Lima, Maria; Menezes, Maiá
Fonte: O Globo, 01/11/2010, O País, p. 24

Cria de Lula, Dilma conduz de forma mais rígida e metódica sua rotina; festas deverão dar lugar à discrição Maria Lima e Maiá Menezes

BRASÍLIA e RIO. Ao entregar a faixa à sua sucessora, Dilma Rousseff, no próximo dia 1ode janeiro, o presidente Lula cederá espaço também a um novo estilo de comando e de convívio com o poder. Entra em cena um modelo mais rígido de cobrança, já testado por Dilma no comando da Casa Civil e como ¿gerente do PAC¿ ¿ ou ¿mãe¿, como preferia Lula.

Despede-se o estilo mais informal, festivo e, às vezes, rebelde com a liturgia do cargo.

Amigo de infância de Lula e de Dilma desde que o presidente e a então ministra se afeiçoaram ao Rio e ao governador Sergio Cabral, o vice-governador fluminense Luiz Fernando Pezão reconhece que os hábitos serão outros no Alvorada, a partir de agora: ¿ Ela cobra de uma maneira muito diferente da dele. É uma gerente, muito disciplinada.

Já o Lula tem um estilo muito alegre, brincalhão. O ritmo é outro. As pessoas vão sentir a diferença ¿ diz Pezão, chamado por Lula de ¿pai do PAC¿ no Rio.

Pezão afirma que o estilo informal de Lula faz, muitas vezes, reuniões de trabalho se tornarem encontros sociais. Ele cita o exemplo das conversas entre Cabral e o presidente: ¿ É uma festa permanente.

Quando os dois estão juntos, 10% é trabalho. O resto é festa.

Apesar de fazer questão de ressaltar as qualidades de Dilma, Pezão admite que nunca mais na História do país teremos um presidente tão festeiro: ¿ A não ser que ele (Lula) volte em 2014 ¿ brinca, meio a sério.

Improviso não deverá mais ser marca nos discursos Metódica, Dilma, na condução da Casa Civil e das Minas e Energia, deixou ao menos uma marca: suas palestras e prestações de contas ancoradas no Power Point ¿ um programa de computador que organiza e apresenta dados. Seus discursos, mesmo na campanha, também seguem linhas mais racionais.

Ao contrário de Lula, que recorre a metáforas de futebol e a improvisos, que já resultaram em gafes, a presidente eleita prefere seguir o script. Com perfil técnico e ¿inflexível¿, segundo até mesmo aliados, Dilma terá, entre outros desafios, o de que encontrar o tom para as negociações com o Congresso.

A rotina que a presidente eleita mantinha até a semana passada é prosaica. Ao final do turbilhão diário da campanha, é para a calmaria de sua casa que Dilma Rousseff deseja voltar.

Tem duas empregadas diaristas, mas elas não dormem na casa. Com seguranças do lado de fora, a futura presidente dorme acompanhada apenas de dois cachorros de estimação: o labrador Nego e a cadelinha dachshund Naná.

Quando está sozinha, Dilma vai para a cozinha e faz seu próprio café ou lanche, e passa o resto das noites vendo filmes na TV ou vídeos para relaxar.

Gosta de comida caseira, arroz integral, bife e feijão.

Em alguns momentos da campanha, sua mãe, dona Dilma Jane, e a tia Arilda passaram um tempo em Brasília para lhe fazer companhia. Mas, com o nascimento do neto Gabriel, as duas se mudaram para a casa do ex-marido de Dilma, Carlos Araújo, em Porto Alegre.

O sossego deve voltar ao Palácio da Alvorada, residência oficial da Presidência. Sai o peladeiro de fim de semana, que gosta de ouvir música sertaneja e pescar no Lago Paranoá, encher o Alvorada e a Granja do Torto de amigos para churrascadas regadas a muita cerveja. Entra a amante de ópera e músicas da jovem guarda.