Título: No DF, Agnelo derrota família Roriz
Autor: Maltchik, Roberto; Weber, Demétrio
Fonte: O Globo, 01/11/2010, O País, p. 34
Gafes de Weslian Roriz fizeram sucesso na internet e se reverteram em vantagem para a campanha petista Roberto Maltchik e Demétrio Weber
BRASÍLIA. Com 66% dos votos válidos, o dobro da adversária Weslian Roriz (PSC), o petista Agnelo Queiroz venceu a disputa pelo governo do Distrito Federal. A vitória do petista no segundo turno das eleições sela o fim da trajetória pessoal de Joaquim Roriz (PSC) na política local. Enquadrado na Lei da Ficha Limpa, Roriz renunciou à candidatura e pôs a mulher em seu lugar para disputar o governo.
Hoje com 75 anos, Roriz está proibido de concorrer a cargos eletivos até 2023, por força da Ficha Limpa. O cacique que governou por quatro vezes o DF só poderá voltar às disputas aos 88 anos.
Agnelo terá como desafio reorganizar a administração de Brasília, após o escândalo de corrupção que deixou em situação precária a prestação de serviços básicos de saúde e transporte coletivo. Ao saber do resultado oficial da apuração, emocionado e cercado por seus aliados, afirmou que assumirá o governo com a população sofrendo de baixa autoestima, por conta do histórico de escândalos, incluindo o último, que levou à prisão e à cassação do mandato do ex-governador José Roberto Arruda, no escândalo conhecido como mensalão do DEM. Agnelo garantiu que seu governo terá a austeridade como meta: ¿ A linha mestra é governar a cidade com ética, austeridade e transparência absoluta.
Nosso compromisso também é recuperar os serviços públicos, como a saúde, que vive numa calamidade.
Na campanha, Agnelo prometeu que, no início do governo, acumularia o cargo de governador com o de secretário de Saúde.
Para vencer, aliou-se ao PMDB, antiga legenda de Roriz, e contará com o apoio de parte do grupo politico do ex-governador Arruda.
No governo Agnelo, de 51 anos, ex-integrantes do grupo político de Roriz devem permanecer poderosos e com assento garantido no Palácio do Buriti. O vice é o deputado federal Tadeu Filipelli (PMDB-DF), que esteve por décadas ao lado do ex-governador e integrou sua tropa de choque no Congresso em 2007, quando Roriz renunciou para escapar do processo de cassação.
A aliança com o PMDB e o apoio de deputados distritais investigados pela Polícia Federal na operação Caixa de Pandora se revelaram os mais espinhosos temas da campanha.
Mas o petista contou com um fato inusitado, que abriu caminho para a tranquila vitória no segundo turno. Ameaçado pela Ficha Limpa, Joaquim Roriz saiu da disputa, após a votação empatada no Supremo Tribunal Federal (STF), que não tomou uma decisão sobre seu recurso contra a cassação do registro imposta pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE).
Roriz cedeu a vaga de candidato para a mulher Weslian, que se transformou na grande sensação das eleições no Distrito Federal. Suas gafes e trapalhadas, protagonizadas em entrevistas e debates, fizeram sucesso na internet e na boca do povo, mas se reverteram em clara vantagem para a campanha de Agnelo. Em sua estreia em debates na TV, chegou a dizer, num ato falho, que defenderia ¿toda aquela corrupção¿.
Em sua despedida como candidata, a mulher de Joaquim Roriz disse que saía da disputa com a sensação do ¿dever cumprido¿.
Ela chegou à escola onde vota no Núcleo Bandeirante, região administrativa de Brasília, por volta das 14h40m.
Acompanhada do marido, que passou a campanha ¿soprando¿ no ouvido dela dicas e frases feitas para responder aos jornalistas, ela levou 14 segundos na cabine de votação: ¿ Estou aliviada, com dever cumprido. Confio na vontade de Deus e agradeço a quem votou em mim. Agradeço também aos jornalistas. Cumpri meu dever de cidadã.
Weslian divulgou nota prometendo fazer oposição implacável ao governo de Agnelo e afirmando que os aliados dele são ¿traidores e oportunistas de última hora¿. Mesmo sem poder disputar eleições por um bom tempo, Roriz vai liderar a oposição.