Título: Biopirataria: multas de R$112 milhões
Autor: Maltchik, Roberto
Fonte: O Globo, 18/11/2010, Economia, p. 31

Operação Novos Rumos do Ibama já autuou dezenas de empresas e instituições de pesquisa

A multa aplicada pelo Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e Recursos Renováveis (Ibama) à Natura por suposta prática de biopirataria integra uma ampla operação, denominada Novos Rumos, que resultou na autuação de dezenas de empresas e já somou, em multas, R$112,2 milhões. Relatório obtido com exclusividade pelo GLOBO mostra que sete empresas ou instituições de pesquisa foram punidas administrativamente por remessa ao exterior de patrimônio genético, considerada a mais grave entre as irregularidades. Só nesses sete processos, as sanções atingem R$46 milhões.

O Ibama já investiga outros casos cujas práticas são similares às do crime organizado e farão parte de uma segunda etapa da operação.

- As sistemáticas (dos infratores) na investigação são as mesmas do comércio internacional de drogas - afirmou ao GLOBO Abelardo Bayma, presidente do Ibama.

Na lista de autuadas, estão instituições de pesquisa nacionais e estrangeiras, além de empresas do ramo farmacêutico e de cosméticos. De acordo com o relatório, entre agosto e outubro foram emitidas 67 multas porque as empresas ou instituições de pesquisa não cumpriram as normas para a repartição dos benefícios oriundos da exploração genética da biodiversidade. Outras 56 multas foram aplicadas por acesso irregular ao patrimônio genético.

Somadas, essas duas infrações geraram multas de R$45,6 milhões e R$20,5 milhões, respectivamente. Dezenove instituições de pesquisa só foram advertidas. Todos estão dentro do prazo para apresentar recurso.

Conforme O GLOBO revelou no início deste mês, a operação Novos Rumos amparou politicamente as ações internacionais do Brasil com o objetivo de combater a biopirataria, na Conferência Mundial da Biodiversidade. A iniciativa foi dividida em duas etapas: a primeira terminou em outubro.

Marco regulatório do setor está parado na Casa Civil

Na primeira fase, o Ibama fez um pente fino em 98 processos considerados irregulares pelo Conselho do Patrimônio Genético (Cgen), vinculado ao Ministério do Meio Ambiente, cuja missão é controlar o acesso ao patrimônio genético nacional. Até hoje, o Cgen já recebeu 107 pedidos de acesso ao patrimônio genético.

Na operação, o Ibama se baseou na medida provisória (MP) 2.186/2001, que proíbe o acesso não autorizado ao patrimônio genético. Mas esta é considerada imprópria por cientistas e até alguns setores do governo. O marco regulatório do setor está parado desde 2007 na Casa Civil. Bayma rejeita os argumentos de que a fragilidade da lei seria um entrave para aplicar punições. Para ele, a MP está em vigor e deve ser cumprida.

Bayma disse que a segunda etapa da operação deve buscar organizações criminosas, que nunca tentaram regularizar atividades de bioprospecção. Há indícios de esquemas envolvendo a contratação de pesquisadores brasileiros por instituições estrangeiras não regulamentadas, que acessam o patrimônio genético e até detêm patentes de produtos brasileiros no exterior.

A Natura já avisou que vai recorrer da multa de R$21 milhões.