Título: Dilma tenta pacificar base, e PMDB diz que não abre mão de espaço
Autor: Vasconcelos, Adriana; Camarotti, Gerson
Fonte: O Globo, 18/11/2010, O País, p. 4

"Estava todo mundo querendo o lugar de todo mundo", reclama Henrique Alves

Um dia depois do anúncio da criação pelo PMDB de um blocão no Congresso - para pressionar o PT e o governo Dilma na divisão de cargos -, a presidente eleita Dilma Rousseff saiu em campo para tentar impedir um racha de sua base antes mesmo da posse. Em conversa com o vice-presidente eleito, deputado Michel Temer (PMDB-SP), Dilma pediu a pacificação dos aliados. Após o encontro, Temer fez outras reuniões e, à tarde, afirmou que estava tudo pacificado. A movimentação surtiu efeito também no Senado, onde o PT descartou a possibilidade que vinha sendo cogitada de criar um bloco para dividir poder com o PMDB.

Na origem da confusão, está a partilha de cargos no governo Dilma e no comando do Congresso. No café da manhã na Granja do Torto, Dilma ouviu de Temer que a formação do bloco foi uma reação do PMDB e de outros aliados às especulações de que o PT estaria de olho no espaço dos demais partidos governistas. Pelo relato de peemedebistas, Temer deixou claro que o partido deseja manter o mesmo espaço que hoje tem no governo Lula, além da divisão do poder no Congresso.

Ficou acertado que Temer faria uma reunião com o líder do governo, deputado Cândido Vaccarezza (PT-SP) e o líder do PMDB, deputado Henrique Eduardo Alves (RN), para contornar a crise. Temer também conversou com o presidente do PT, José Eduardo Dutra.

- Está tudo pacificado. Depois da reunião com Dilma, e aqui com Vaccarezza e com Dutra por telefone, todos saíram dizendo que estamos juntos. Cada um vai ter seu espaço. O recado foi dado - disse Temer.

Blocão poderá ser usado por PMDB para pressionar PT

Nos bastidores, o PMDB avaliou que deu uma demonstração de força para se posicionar no jogo político do loteamento do governo Dilma e da sucessão na Câmara e no Senado. Os peemedebistas esperam que o PT assine o acordo de revezamento do comando da Câmara em dois biênios. Mas os petistas resistem. Caso isso não ocorra, o PMDB tentará manter o blocão como instrumento de pressão.

Desde a véspera, o Planalto tentou impedir o megabloco anunciando pelo peemedebistas - PMDB, PP, PR, PTB e PSC. O ministro de Relações Institucionais, Alexandre Padilha, telefonou para líderes dos partidos para desfazer o acordo. À noite, conseguiu um recuo do PP. Mas ontem, o líder do PP, João Pizzolatti (SC), confirmou a adesão.

- O PT quer ficar com a Saúde, as Comunicações... daqui a pouco vai tirar o PMDB do governo. É preciso respeitar os espaços dos aliados. Estava todo mundo querendo tomar o lugar de todo mundo. Estava uma balbúrdia entre nós da base. Depois da conversa, ficou claro que ninguém vai sujar o jogo de ninguém - disse Henrique Alves.

Vaccarezza tentou minimizar:

- Se for para pacificar os ânimos, tudo bem! Mas só no anúncio do bloco, já deu problema. O que há é uma intenção de formar um bloco. Mas o PT não vai entrar.

Do outro lado do Congresso, o presidente do Senado, José Sarney (PMDB-AP), foi um dos primeiros a entrar em campo para evitar que a crise na Câmara contaminasse o Senado.

- Não temos isso em vista aqui. Até agora ninguém tratou da criação de blocos aqui.

Lula evitou criticar o bloco e defendeu o diálogo:

- Política é como o leito de um rio. Se a gente não for um desmancha (?), se deixar a água correr tranquilamente, tudo vai se colocando de acordo com o que é mais importante. Se as pessoas tentam, de forma conturbada, mexer na política, pode não ser muito bom. É hora de os partidos começarem a discutir. Tem 48% de renovação na Câmara, no Senado. Quem vai ser presidente da Câmara, do Senado.

COLABORARAM: Maria Lima e Isabel Braga