Título: Dilma ainda avalia viagem aos EUA este ano
Autor: Vasconcelos, Adriana
Fonte: O Globo, 18/11/2010, O País, p. 9

Desgaste em temas como o Irã pode inviabilizar visita

Seguindo a tradição dos últimos presidentes eleitos, a ida de Dilma Rousseff aos Estados Unidos antes da posse está sendo cogitada pelas equipes de transição e do governo Lula, mas ela ainda analisa a possibilidade. Segundo fontes diplomáticas, Dilma pode não ir aos EUA por causa do tratamento recente dado ao Brasil pela Casa Branca, principalmente no caso do Irã.

Em maio, a secretária de Estado americana, Hillary Clinton, anunciou que proporia sanções ao Irã no Conselho de Segurança da ONU, devido à sua política nuclear. O anuncio foi feito um dia após os presidentes Lula e do Irã, Mahmoud Ahmadinejad, e o primeiro-ministro turco, Tayyip Erdogan, assinarem acordo com regras para a transferência de urânio levemente enriquecido do Irã para a Turquia. O presidente dos EUA, Barack Obama, enviou carta a Lula elogiando a disposição de Brasil e Turquia de tentarem convencer o Irã a propor um acordo à Agência Nacional de Energia Atômica.

Favoráveis à ida de Dilma aos EUA dizem que a assessoria de Obama informou que ele deverá vir ao Brasil no primeiro semestre de 2011 com uma "bandeira branca", de olho em temas de interesse da política externa brasileira como a reforma da ONU, a guerra cambial, o pré-sal, o desenvolvimento sustentável e a Rodada de Doha, na Organização Mundial do Comércio (OMC).

Dilma e Obama estarão juntos em reunião no México

Outro ponto a favor: as recentes declarações de Obama sobre a necessidade de reformar o Conselho de Segurança da ONU e o apoio dos EUA à Índia para se tornar membro permanente foram bem recebidas pelo governo brasileiro. O Brasil também pleiteia um assento definitivo e precisa aproveitar a oportunidade, uma vez que só agora Obama se pronunciou a respeito do tema.

Fontes da equipe de transição admitem uma possível viagem, mas dizem que ainda não há definição na agenda de Dilma.

O último contato entre Dilma e Obama ocorreu semana passada, na reunião do G-20, na Coreia do Sul. Eles devem se reunir novamente em dezembro, no México, na conferência sobre aquecimento global.

Além da questão iraniana, pesa contra uma viagem de Dilma, nos bastidores diplomáticos, outras questões, como o reconhecimento pelos Estados Unidos da eleição em Honduras de Porfírio Lobo, após o golpe de Estado que tirou do poder o presidente eleito Manuel Zelaya. Houve ainda uma dura negociação que levou a um acordo, envolvendo os subsídios aos produtores de algodão dos EUA condenados pela OMC. O Brasil foi autorizado a retaliar os americanos em quase US$1 bilhão, mas aceitou uma trégua de dois anos.