Título: Lula e Dilma: EUA e China fazem guerra cambial
Autor: Gois, Chico de ; Damé, Luiza
Fonte: O Globo, 04/11/2010, O Pais, p. 9

Ao lado da sucessora, presidente disse que vai à reunião do G-20 "para brigar" e evitar sobrevalorização do real

BRASÍLIA. O presidente Luiz Inácio Lula da Silva e a presidente eleita, Dilma Rousseff, acusaram ontem os Estados Unidos e a China de promoverem uma guerra cambial internacional.

Os dois disseram que irão para a próxima reunião do G-20 (grupo das 20 maiores economias do mundo) dispostos a combater o uso da desvalorização artificial das moedas ¿ especialmente o dólar e o yuan ¿ como instrumento para reativar economias em crise e elevar a competitividade no comércio exterior. Segundo Lula, ele irá à cúpula ¿para brigar¿.

¿ Nós (ele e Dilma) queremos o câmbio flutuante. A segunda coisa em comum é que nós achamos que os Estados Unidos e a China estão fazendo uma guerra cambial. Os Estados Unidos, porque querem resolver o problema do déficit fiscal deles; e a China, porque sabe que não pode continuar com a sua moeda subvalorizada como está.

Lula afirmou que o Brasil está armado: ¿ Eu vou para o G-20, agora, para brigar. Se eles já tinham problema para enfrentar o Lula, agora vão enfrentar o Lula e a Dilma.

Desde a turbulência financeira de setembro de 2008, os Estados Unidos, epicentro da crise, derrubaram as suas taxas de juros para ajudar o setor produtivo local a se recuperar de uma grave retração. Os investidores passaram a procurar países que paguem juros mais elevados para aplicar seu dinheiro. O Brasil foi um dos principais destinos desta corrida por maiores ganhos.

Com o ingresso muito grande de investimentos externos, a cotação do dólar frente ao real derreteu. Quanto mais vale o real, mais caros ficam os produtos brasileiros no exterior, afetando os exportadores, com impacto sobre produção, emprego e renda.

O quadro é agravado pelo fato de a China, historicamente, manter um regime de câmbio fixo, com o qual manipula a cotação do yuan. O governo chinês opera para deixar a moeda nacional bem desvalorizada, o que barateia seus produtos no exterior e é um dos pilares de seu crescimento econômico.

Por isso, China e EUA estão sob ataque brasileiro. Lula tratou do tema em reunião na parte da tarde com o ministro Guido Mantega (Fazenda) e o presidente do Banco Central, Henrique Meirelles.

O presidente participará da reunião do G-20 nos dias 11 e 12 de novembro, em Seul, e levará Dilma para o encontro. Lula afirmou que o governo está preocupado com a questão cambial e já adotou medidas para evitar a sobrevalorização do real frente ao dólar, como o aumento de impostos para aplicações estrangeiras.

Além disso, segundo Lula, Mantega e Meirelles estão acompanhando o assunto: ¿ O Guido e o Meirelles sabem que eles têm que acompanhar o câmbio. Nós temos uma preocupação muito séria e nós vamos tomar cuidado. Vamos tomar todas as medidas necessárias para que a gente possa não permitir que a nossa moeda fique sobrevalorizada.

Dilma afirmou que a guerra cambial só pode ser resolvida com medidas coletivas, não com soluções individuais. A presidente eleita lembrou que a última vez em que foi adotada uma solução individual, detonou-se a Segunda Guerra Mundial.

¿ Todos os países que não são a China e os Estados Unidos percebem que há uma guerra cambial. Numa situação dessas, não há solução individual, nunca houve. Você pode ter medidas de proteção do seu país, mas quando começa uma política de desvalorização competitiva...

A última vez que houve, deu no que deu: a Segunda Guerra Mundial ¿ disse.

BRASIL ADOTARÁ MEDIDAS DE DEFESA COMERCIAL SE G-20 NÃO CHEGAR A ACORDO, na página 24.