Título: PSB quer mais espaço no governo
Autor: Camarotti, Gerson ; Lima, Maria
Fonte: O Globo, 04/11/2010, O Pais, p. 12

Com seis governadores e 37 deputados, partido entra na disputa por cargos, já iniciada pelo PMDB. Em pauta, estão quatro pastas

BRASÍLIA. Depois do PMDB, o PSB oficializou ontem à noite o desejo de ampliar espaço no futuro governo da presidente eleita, Dilma Rousseff, para corresponder ao crescimento do partido nas urnas, com a eleição de seis governadores e 37 deputados federais. Além do Ministério de Ciência e Tecnologia e da Secretaria Nacional de Portos, os socialistas querem recuperar o Ministério da Integração Nacional ou assumir o Ministério das Cidades.

O pleito do partido foi apresentado pelo presidente do PSB, governador Eduardo Campos (PE), ao presidente do PT, José Eduardo Dutra. Hoje, os governadores do PSB e as principais lideranças da legenda se reúnem em Brasília. Mas, de forma reservada, a expectativa do exministro Ciro Gomes de reassumir um cargo no primeiro escalão do governo perdeu força.

O PSB e o PT estudam como alternativa a indicação do senador Antônio Carlos Valadares (PSB-SE) para o Ministério. Com isso, Dutra, que é suplente do parlamentar sergipano, assumiria a vaga no Senado. Como o PSB saiu mais forte no Nordeste, com a eleição dos governadores de Pernambuco, Ceará, Piauí e Paraíba, Valadares passou a ser lembrado. Ao ser questionado se ele seria escalado na sua cota e de Sergipe, Dutra brincou: ¿ Nem eu nem Sergipe temos cacife para ter cota no Ministério de Dilma.

Ontem, o PMDB decidiu adotar uma postura cautelosa, depois da cobrança feita no dia anterior pela manutenção do mesmo espaço que tem no governo Lula na gestão de Dilma, com sete cargos no primeiro escalão.

Após um café da manhã com Dilma, o vice-presidente eleito, deputado Michel Temer (PMDBSP), evitou tratar da divisão de cargos. Ele tentou tirar do PMDB o carimbo de partido fisiológico, afirmando que a legenda ¿não está atrás dos cargos¿.

¿ Não vamos nem tocar neste assunto agora, porque toda vez que se toca neste assunto a impressão que se tem é que o PMDB está atrás dos cargos, e não é isso. Eu falo aqui mais como vice-presidente, membro do governo, do que como presidente do PMDB ¿ disse Temer, ao sair da casa de Dilma e ser perguntado se o partido manteria o espaço no futuro governo.

José Eduardo Dutra disse que, na conversa com Michel Temer terça-feira, para tratar das demandas, não percebeu nenhuma cobrança indevida: ¿ Não percebi que o PMDB queira estabelecer esse tipo de cobrança indevida. Pelo contrário.

Michel externou que a posição do partido será construtiva, naturalmente, sem perder a perspectiva da importância da contemplação da estrutura do partido no governo pluripartidário.

Mas deixou de forma muito clara que o PMDB vai trabalhar junto, sem estabelecer processo de negociação permanente.

Dutra alertou que o tamanho do PMDB não é o único parâmetro para compor o governo: ¿ Todos os partidos têm seu peso, e isso vai estar expresso dentro da composição do governo.

Nenhum partido pode, a priori, dizer que é o mais importante do governo ou da coligação.

É claro que o peso se expressa através de sua força real, medida pela presença no Congresso.

Mas a presidente foi eleita com base num programa, e a obrigação da coligação é dar sustentação a esse projeto.

Sobre a escolha do novo presidente da Câmara, Temer explicou que vai deixar para janeiro a decisão sobre qual partido, entre PT e PMDB, vai ocupar de início o comando da Casa, para não contaminar as negociações de composição do governo: ¿ A única coisa que vamos firmar é um documento pelo qual haverá um rodízio entre PMDB e PT. O primeiro biênio com um partido e o segundo, com outro. Quem irá ocupar o primeiro ou o segundo biênio, vamos deixar lá para janeiro