Título: 'O efeito na economia real será pequeno'
Autor:
Fonte: O Globo, 04/11/2010, Economia, p. 23
José Márcio Camargo, professor da PUC-Rio e economista da Opus Gestão de Recursos, vê com descrença as medidas anunciadas pelo Federal Reserve (Fed, o banco central americano) para estimular a economia. Para ele, o impacto na economia real deve ser pequeno, já que o problema nos Estados Unidos, segundo ele, não é de falta de liquidez.
O GLOBO: A medida do Fed deve ter impacto na economia americana? JOSÉ MÁRCIO CAMARGO: Acho que o efeito na economia real será pequeno. O problema nos Estados Unidos é muito mais estrutural que de liquidez. As famílias estão endividadas, o governo tem um déficit elevado e a estrutura de oferta de trabalho é diferente da de demanda. O cenário exige mudanças grandes que só farão efeito a longo prazo.
Mas o senhor não acredita em aumento de empréstimos? CAMARGO: Acho pouco provável. A taxa de juros já está muito baixa e os bancos estão com reservas de US$ 1 trilhão. As instituições não estão emprestando porque não têm demanda por crédito.
O que podemos esperar de efeito no Brasil? CAMARGO: Há risco de bolha de ativos. A liquidez tende a gerar aumento no preço das ações e de commodities. Isso favorece os termos de troca (relação entre preço de exportações e importações). E também estimula a demanda interna, que tende a pressionar o preço de produtos não comercializáveis e serviços.
E o risco cambial? CAMARGO: Um risco importante que não deve ser ignorado é que mais desvalorização do dólar acabe gerando uma guerra comercial.