Título: Brasil vai esperar resultado do G-20 para adotar medidas antidumping
Autor: Oliveira, Eliane ; Doca, Geralda
Fonte: O Globo, 04/11/2010, Economia, p. 24

Se não houver acordo, governo montará conjunto de ações com foco na China

BRASÍLIA. Adepto do multilateralismo e, como deixou claro ontem a presidente eleita, Dilma Rousseff, contrário a medidas unilaterais que desvalorizam artificialmente moedas, o governo brasileiro decidiu usar primeiro a pressão política na reunião do G-20, nos próximos dias 11 e 12, em Seul, para depois partir para a retaliação. Sem acordo um em que as 20 maiores economias mundiais se comprometam a evitar práticas tidas como desleais pela Organização Mundial do Comércio (OMC) e outros organismos internacionais, o Brasil se defenderá atacando, com a imposição de medidas de defesa comercial.

Tudo vai depender apenas de como os participantes, principalmente China e Estados Unidos, que protagonizam a guerra cambial, vão se comportar no G20. As novas estratégias, como revelou no último domingo O GLOBO, incluem a intensificação de medidas antidumping.

Na falta de um acordo, técnicos dos ministérios da Fazenda e do Desenvolvimento se reunirão em seguida, para montar um leque de ações voltadas, especialmente, ao ingresso de produtos chineses no Brasil.

Dados do Ministério do Desenvolvimento mostram que, até setembro, haviam sido abertos 69 processos antidumping pelo governo brasileiro, sendo 28 contra a China. Ventiladores de mesa, ferros de passar roupa, armações de óculos, cadeados, escovas para cabelo, alto-falantes, seringas descartáveis, lápis, canetas esferográficas, calçados e alho são exemplos de bens chineses sobretaxados pelo Brasil.

Outra medida a ser tomada será o bloqueio de importações de países que servem de base para a triangulação de exportações chinesas. A prática, também conhecida por circunvention (retorno), funciona da seguinte forma: produtos afetados por medidas antidumping, mais uma vez em sua maioria chineses, são maquiados, remontados ou apenas reexportados por terceiros países. Taiwan, Malásia, Cingapura e Hong Kong estão entre os mercados onde há indícios de que isso aconteça.

O secretário de Comércio Exterior do Ministério do Desenvolvimento, Welber Barral, defendeu a necessidade da adoção de medidas multilaterais, mas afirmou que não existe ¿solução ou remédio milagroso¿. Segundo ele, por outro lado o governo brasileiro está otimista em obter avanços na reunião do G-20: ¿ As propostas do ministro da Fazenda (Guido Mantega) têm sido bem recebidas nos círculos econômicos mundiais.

Barral se referia, por exemplo, à ideia de Mantega de se estabelecer uma espécie de monitoramento, com punições, de países que promoverem mudanças artificiais no câmbio. A medida atingiria a todos, inclusive os EUA, que não param de emitir dólares, desvalorizando sua moeda frente às demais, com destaque para o real.

Exportações superam importações em outubro Após bater recorde de importações em setembro, a balança comercial brasileira reagiu e, pela primeira vez desde janeiro, o ritmo de expansão das vendas externas superou o das compras em outubro. O país exportou US$ 18,381 bilhões, com média diária de US$ 919,1 milhões ¿ alta de 37,1% frente aos US$ 670,6 milhões em igual período de 2009.

Do lado das importações, o valor ficou em US$ 826,4 milhões, alta de 35,9%. O resultado foi um superávit de US$ 1,854 bilhão.

Além do aumento nos volumes embarcados, o valor dos produtos no mercado internacional, sobretudo dos básicos, subiu consideravelmente, o que ajudou a reverter a tendência, na avaliação do Ministério do Desenvolvimento.