Título: Para educadora, sistema do exame deveria ser descentralizado no país
Autor: Barbosa, Adauri Antunes
Fonte: O Globo, 10/11/2010, O País, p. 4

Segundo Maria Helena Castro, mudança diminuiria vulnerabilidade do Enem

SÃO PAULO. Para a professora Maria Helena Guimarães de Castro, ex-secretária de Educação de São Paulo de 2007 a 2009 e ex-presidente do Inpe, o Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) deveria ser descentralizado, com a aplicação de provas em datas diferentes, como é feito nos Estados Unidos e em alguns países da Europa. Segundo Maria Helena, o gigantismo do Enem, que é aplicado a milhares de alunos ao mesmo instante, num país com as dimensões continentais do Brasil, torna o sistema muito vulnerável.

Para ela, a prova poderia ser aplicada duas ou três vezes ao ano por entidades credenciadas pelo Ministério da Educação (MEC).

¿ Um dos critérios poderia ser regional. Cada região do país, por exemplo, faria a prova em datas diferentes, o que traria economia do ponto de vista da complexidade da sua aplicação. Isso poderia fazer ainda que houvesse investimento maior na qualidade do instrumento ¿ propôs Maria Helena, afirmando que isso tornaria o processo mais ágil, mais fácil de gerenciar e menos suscetível a falhas.

Nos EUA, prova é aplicada três vezes por ano

Nos Estados Unidos é utilizado um modelo que, na avaliação da educadora, poderia ser aplicado no Brasil. A prova é aplicada três vezes ao ano por instituições credenciadas.

¿ Os alunos interessados se inscrevem na instituição credenciada. Essa nota é utilizada por cerca de 2.800 universidades.

E cada uma define o seu critério para usar a nota.

Harvard, por exemplo, exige nota alta, além de ter outras exigências, outros critérios para admitir os alunos.

No caso do Enem, de acordo com Maria Helena, o problema é que a prova tem múltiplos objetivos: ¿ O problema do Enem é que mistura avaliação com seleção de estudantes. Tem múltiplos objetivos.

Uma das distorções geradas por essa mistura, segundo a ex-secretária de Educação de São Paulo, acontece por exemplo na Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), onde o Enem é utilizado como substituto do vestibular, sem outro critério ou exigência complementar: ¿ O curso de Medicina da UFRJ, que é o terceiro mais concorrido entre todos do país ¿ só está atrás do mesmo curso da USP e da Universidade Paulista de Medicina ¿ só pede o Enem. Uma situação complicada para tanta concorrência.

Para descentralizar as provas, ela sugere ainda a ampliação do banco de itens, onde estão as questões pré-testadas para as provas. Hoje o banco de itens do Brasil tem cerca de 10 mil questões.

¿ Poderíamos construir um banco com 100 mil itens ¿ sugere, lembrando das várias provas a serem aplicadas durante o ano.

Parques de informática devem ser aproveitados

Outra sugestão de Maria Helena é que as universidades, assim como outras instituições ligadas à educação que poderiam se credenciar para a aplicação da prova, aproveitem seus bem equipados departamentos de informática.

¿ As universidades brasileiras têm bons parques de informática, bem estruturados, que poderiam ser utilizados para aplicar a prova diretamente no computador.

Presidente do Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep), que hoje comanda o Enem, de 1994 a 2002, durante o governo do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, Maria Helena foi responsável pela viabilização do ¿Provão¿, cujo nome oficial era Exame Nacional de Cursos, sucedido depois pelo Enade.