Título: Reunião do G-20 cresce de importância
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Fonte: O Globo, 10/11/2010, Opinião, p. 6

O presidente Barack Obama tomou a iniciativa de visitar alguns países asiáticos antes da reunião do G-20 em Seul, na qual as vinte maiores economias do planeta ¿ inclusive a do Brasil ¿ estarão representadas por chefes de governo e de estado. A reunião, a ser aberta amanhã, cresceu de importância devido ao ambiente de guerra cambial das últimas semanas, e o presidente americano está consciente disso.

Até recentemente a China era considerada a responsável única pela situação, por manter sua moeda artificialmente desvalorizada com objetivo de controlar importações e para tornar sua produção imbatível em qualquer parte do planeta.

Mas os Estados Unidos, por sua vez, com uma economia que se enfraqueceu fortemente após o estouro da bolha imobiliária e a crise financeira de 2008, tentam reagir com estímulos monetários surpreendentes.

As taxas básicas de juros administradas pelo Federal Reserve (banco central) estão próximas de zero, com o objetivo de estimular os bancos a emprestar, e nem assim o crédito voltou a se normalizar.

Trata-se de uma situação realmente preocupante. De um lado, a economia chinesa, com forte impacto sobre oferta e demanda no comércio mundial, usando de artifícios para que sua moeda não reflita o imenso superávit na balança comercial do país e a acumulação de reservas. Por outro, o dólar enfraquecido em decorrência do quadro macroeconômico dos Estados Unidos ¿ seria um problema local não fossem os Estados Unidos, ainda de longe, a maior economia do planeta, e se sua moeda não servisse de referência para 80% das transações comerciais e financeiras internacionais.

A guerra cambial afeta negativamente a economia brasileira em função do movimento de capitais financeiros que as diferenças entre as moedas e as taxas de juros vem provocando.

Recursos que entravam no Brasil exclusivamente para aplicações em títulos de renda fixa de curto prazo já encontram barreira tributária, que é a cobrança de um imposto (IOF) de 6%. Esta alíquota era de 2% há menos de 60 dias. A contratação de empréstimos interbancários, em prazos de menos de um ano, também deu um salto considerável, pois, para o sistema financeiro, essa modalidade de financiamento tem sido um canal de captação mais barato do que as opções internas.

Nesse clima, para se evitar um retrocesso com várias economias abandonando o câmbio flutuante, é bem provável que sobre a mesa de negociações na reunião do G20 na Coreia do Sul as restrições ao movimento de capitais de curto prazo ganhem destaque. O ideal é que houvesse uma ação coordenada por instituições multilaterais, como o Fundo Monetário Internacional (FMI), o Banco de Compensações Internacionais (BIS) etc., mas o G-20 assumiu o papel de fórum adequado para a busca de soluções à atual crise. O Brasil dará a devida importância à reunião de Seul se fazendo representar pelo presidente Lula, e integrando à comitiva a presidente eleita, Dilma Rousseff.

É essencial a negociação de um acordo que evite um ciclo de protecionismo