Título: Presidente da Previ assume conselho da Vale, que tenta sair do foco político
Autor: Duarte, Patrícia; Nogueira, Danielle
Fonte: O Globo, 10/11/2010, Economia, p. 24

Ricardo Flores substituirá Sergio Rosa no cargo e buscará aproximar sócios da mineradora

BRASÍLIA e RIO. O presidente da Previ (fundo de pensão dos funcionários do Banco do Brasil), Ricardo Flores, foi indicado, seguindo a tradição, para a presidência do Conselho de Administração da Vale. Ele substituirá Sergio Rosa, ex-presidente da entidade, e assumirá o cargo com uma missão especial: aproximar os sócios e afastar a mineradora das discussões políticopartidárias. O executivo também fará um acompanhamento de perto dos resultados da Vale, comandada por Roger Agnelli, cuja cabeça o governo esteve perto de pedir em 2009.

Fontes que acompanham as relações entre governo e mineradora dizem que os ânimos estão muito menos acirrados atualmente. Portanto, não há intenção, por ora, de trabalhar pela demissão de Agnelli ¿ que, por acordo de acionistas, cabe ao Bradesco, que o indicou ao cargo e lidera a gestão da Vale. A possibilidade, porém, não estaria totalmente descartada.

Flores foi indicado pela controladora da Vale, a Valepar ¿ que detém 53% das ações ordinárias (com direito a voto) da empresa ¿, mas seu nome precisa passar pelo crivo formal do Conselho da mineradora no próximo dia 25. Ele assumiu a presidência da Previ em junho.

Desde então, era aguardado que sua indicação fosse oficializada.

A presidência do Conselho da Vale normalmente pertence à Previ, sua maior acionistas, com quase 15% das ações. O BNDES tem 5,4%, garantindo ao governo uma golden share (ação com poder de veto).

Ex-sindicalista, Sergio Rosa deixa a Vale após sete anos à frente do Conselho. Seu mandato terminaria em maio de 2011. Um dos pontos marcantes de sua gestão foi o apoio aos investimentos em siderurgia, bandeira defendida pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva e ponto de atrito entre Planalto e Agnelli.

Perguntado sobre a razão da demora para a indicação de Flores para substituí-lo no Conselho da Vale, Rosa foi lacônico.

¿ Assim que a Previ pediu minha substituição eu atendi ¿ disse Rosa, que hoje está à frente da Brasilprev.

Além das divergências quanto ao foco dos investimentos em siderurgia, uma das razões de a Vale ter entrado em rota de colisão com o governo foi as quase duas mil demissões no fim de 2008, em plena crise.