Título: Na África, inauguração de papel
Autor: Gois , Chico de
Fonte: O Globo, 09/11/2010, O Pais, p. 11

Burocracia moçambicana emperrou fábrica de retrovirais

MAPUTO. O presidente Luiz Inácio Lula da Silva faz sua última viagem à África antes do fim de seu mandato, mas sem poder encerrar a passagem pelo continente como gostaria, hoje, em Moçambique. Lula queria entregar uma fábrica de retrovirais para ajudar no combate à Aids. Somente na capital Maputo, a doença atinge 23% da população, e só um terço dos doentes recebe tratamento. No entanto, a burocracia frustrou a expectativa de Lula.

Sem a inauguração, a visita de Lula servirá, como disseram diplomatas brasileiros, como gesto político para que o governo moçambicano apresse a adaptação do prédio onde irá funcionar a produção de medicamentos.

Lula pensou em colaborar com Moçambique no combate à Aids ainda em 2003, logo que assumiu seu primeiro mandato. Mas apenas em dezembro de 2009 o Congresso brasileiro aprovou o convênio com o governo africano, que prevê a doação de maquinário, cujo valor é estimado em US$ 13 milhões, para a produção dos retrovirais. A contrapartida moçambicana neste convênio é a adaptação do prédio, orçada em US$ 5 milhões. Somente agora, no final de 2010, o governo iniciou a discussão sobre a contratação de uma empresa para obra.

Além de colaborar com a fábrica, o Brasil vai doar 21 dossiês de medicamentos com fórmulas.

Cada uma delas chega a custar R$ 80 mil.

¿ É um gesto político que o Brasil está fazendo ¿ afirmou ontem o embaixador brasileiro em Moçambique, Antonio José Maria de Souza e Silva.

Lula também fará palestra na aula inaugural do primeiro polo da Universidade Aberta do Brasil em Moçambique. Deverão participar 620 estudantes. O Brasil e Moçambique oferecerão quatro cursos ¿ Pedagogia, Matemática, Administração e Gestão Pública e Ciências Biológicas. Os estudantes terão dupla diplomação, o que poderá permitir, no futuro, que trabalhem no Brasil.