Título: Inflação sobe para 0,75% pressionada por alimentos. Carne tem alta de 3,48%
Autor: Ribeiro, Fabiana; Almeida, Cássia
Fonte: O Globo, 10/11/2010, Economia, p. 27
IPCA acumula 4,38% este ano. Em outubro, feijão mulatinho aumentou 31%
Os alimentos voltaram a ser o vilão da inflação brasileira, respondendo por mais da metade da alta de preços de outubro.
Com isso, o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA, usado nas metas de inflação do governo) atingiu a maior variação para um mês de outubro desde 2002, de 0,75% ante os 0,45% em setembro, informou ontem o IBGE. No ano, o IPCA acumula alta de 4,38% e, em 12 meses, 5,20%. O centro da meta de inflação do governo para este ano é de 4,5%. Segundo analistas, os alimentos vão continuar pressionando o orçamento das famílias nos próximos meses. As altas, contudo, devem ser menos intensas.
¿ A grande maioria dos alimentos importantes está subindo.
Uma pressão generalizada em produtos de maior peso para as famílias ¿ diz Eulina Nunes, coordenadora do Sistema de Índice de Preços do IBGE.
Os itens do grupo de alimentos e bebidas encareceram 1,89%. Coube às carnes, com aumento de 3,48% em outubro, a maior contribuição individual no índice. Já o preço do feijão carioca (mulatinho) subiu 31,42% no mês, mais do que dobrando no ano (109,78%). Houve altas em açúcar (14,60%), farinha de trigo (5,23%) e frango (5,08%).
Demanda global puxada pelos asiáticos, seca aqui e no mundo, e até uma área plantada menor este ano são os motivos apontados pela economista para esse movimento nos preços: ¿ Os alimentos sobem no mundo todo. Na Rússia, o maior produtor de trigo, a seca prejudicou a produção e o país parou de exportar. O trigo está supervalorizado. A carne está sendo destinada para exportação e mais cara por causa da seca. Com o gado confinado, há necessidade de ração que está mais cara, dessa vez, por causa do milho ¿ disse Eulina, acrescentando que o motivo da alta do feijão está no preço ruim do ano passado. ¿ A área plantada diminuiu, a ponto de a segunda safra de feijão, a maior do ano, ter caído 18% em relação a 2009.
Os combustíveis também pressionaram a inflação, com alta de 1,56% em outubro. O dólar, por sua vez, vem ajudando a segurar os preços, cita Eulina. Itens de higiene e limpeza, eletrodomésticos e carros novos subiram menos que a inflação.
¿ O dólar está ajudando a conter a taxa. O preço do carro novo caiu 0,95% e o da televisão, 15,75%.
Na avaliação de Silvio Campos Neto, economista-chefe do Banco Schahin, o aumento da demanda dos brasileiros também explica a inflação, inclusive no que se refere aos alimentos.
¿ O dólar acaba não sendo um fator preponderante para segurar a inflação. Especialmente num contexto de preços internacionais subindo ¿ disse o economista.
Serviços sobem 0,49% e, em 12 meses, têm alta de 7,17% A forte demanda também aparece na alta dos serviços. Luis Otavio Leal, economista-chefe do ABC Brasil, lembra que a variação de preços dos serviços chegou a 0,49%, contra 0,41% no IPCA de setembro. No acumulado em 12 meses, os serviços sobem 7,17%, o maior patamar desde agosto de 2009. Para o banco, ¿essa constatação coloca ainda mais peso não só na decisão do Banco Central de manter os juros, quanto na sua participação na luta para desvalorizar o real, uma vez que a apreciação da moeda brasileira pode ser o principal aliado do BC na manutenção da sua estratégia¿.
Para os próximos meses, o consumidor pode esperar novas altas entre os alimentos. Analistas acreditam que esse movimento pode ser menos intenso do que o visto em outubro.
¿ A tendência internacional é de recuperação dos preços ¿ acrescentou Antônio Correa de Lacerda, professor da PUC-SP.
Para novembro, a previsão é que o grupo de Alimentos e Bebidas continue a ser o maior contribuinte do IPCA. Os impactos de preços administrados para novembro são o reajuste de energia elétrica em algumas cidades.