Título: Trem-Bala
Autor: Oliveira, Eliane
Fonte: O Globo, 31/10/2010, O País, p. 19

O projeto de implantação do Trem de Alta Velocidade (TAV), ou trem-bala, ligando Rio, São Paulo e Campinas, está mal parado. O leilão para escolher a concessionária que vai construir e operar o sistema está marcado para 16 de dezembro, mas a obra mais cara do PAC (R$ 33 bilhões) ainda divide opiniões.

Especialistas dizem que o preço está subestimado e que o trem poderia custar o dobro (R$ 66 bilhões) ou até o triplo (R$ 99 bilhões). Falase também que a demanda (32 milhões de usuários/ano) está superestimada. E que para atingir este número seria preciso absorver todos os passageiros da ponte aérea.

É claro que o projeto não vai custar R$ 33 bilhões.

Hoje os técnicos já admitem isso abertamente. O Brasil não tem dinheiro para isso e nenhuma empresa privada vai querer assumir esse risco diz Ronaldo Balassiano, professor da Coppe/UFRJ.

Outro argumento que se coloca à frente dos trilhos é a prioridade. Embora o governo anuncie que a obra será feita com recursos privados, a concessionária poderá pegar até R$ 19,9 bilhões no BNDES.

Com esse dinheiro, dizem os críticos, poderiam ser feitas obras mais urgentes.

Há outros gargalos que precisam ser resolvidos antes, como metrô, portos e aeroportos diz José Eugênio Leal, professor da PUC-RJ.

Já o professor Hostílio Xavier Ratton Neto, da Coppe/ UFRJ, sustenta que o projeto do trem-bala tem um alcance estratégico, que não se esgota na análise financeira: Esse projeto é importante porque muda a matriz energética do transporte no país. Hoje, 95% dos deslocamentos são feitos por automóveis, ônibus e aviões.

Segundo o presidente da Associação Nacional de Transportes Públicos (ANTP), Ailton Brasiliense, o trem-bala poderia ser uma opção para o aumento de demanda tanto no transporte rodoviário quanto no aéreo.

Ele tem de ser pensado como projeto de médio e longo prazo. A Via Dutra e os dois aeroportos (Rio e São Paulo) estão caminhando rapidamente para o esgotamento.

O de cá (São Paulo) já passou dos limites. O Santos Dumont tem um pouco mais de folga. Mas existem limites.

A presidenciável Dilma Rousseff (PT) diz que o trembala será uma opção de transporte rápida e barata: A implantação do Trem de Alta Velocidade entre Rio, São Paulo e Campinas é um projeto necessário para solucionar o crescente fluxo entre estas regiões metropolitanas, aliviando a demanda sobre outras formas de transporte.

A alternativa ao TAV é o investimento em rodovias e aeroportos, que trazem mais impactos ao meio ambiente e à qualidade de vida da população da região.

José Serra (PSDB) diz que diante de tantas dúvidas sobre custos e viabilidade financeira, é preferível deixar o projeto para a iniciativa privada e utilizar recursos públicos para a ampliação do metrô em capitais brasileiras: Questiona-se qual o lugar do projeto na lista de prioridades para o Brasil. Vale a pena investir recursos públicos em projeto tão caro, e que vem apresentando custos repetidamente majorados, quando temos inúmeras capitais brasileiras sem metrô ou com traçados ainda insuficientes? Cabe indagar: trembala ou metrô, o que traria mais benefícios para o povo? Eleições 2010