Título: Usina de Belo Monte
Autor: Oliveira, Eliane
Fonte: O Globo, 31/10/2010, O País, p. 19

Não importa quem vença a eleição presidencial hoje. A construção da usina de Belo Monte, no Rio Xingu, Pará que será a terceira maior hidrelétrica do mundo, perdendo para Três Gargantas, na China, e a binacional Itaipu, na fronteira com o Paraguai e todas as obras contratadas na Amazônia são projetos que não têm volta.

Segundo especialistas, não há como mexer nos empreendimentos objetos de contrato.

Técnicos do governo afirmam que o Brasil precisa de energia limpa para crescer sem aborrecimentos.

Maior obra da era Lula, orçada em R$ 19 bilhões sendo R$ 600 milhões só com quatro anos de alimentação dos mais de dez mil trabalhadores e com capacidade de geração suficiente para abastecer sozinha mais de 22 milhões de residências, Belo Monte foi alvo de ambientalistas, do Ministério Público e de sociedades de proteção a ribeirinhos desde que seu projeto começou a tomar forma, na década de 80, e sobretudo nos últimos dois anos.

A hidrelétrica foi leiloada em 20 de abril numa licitação salva pela União, que, além de um pacote de incentivos, determinou ao Grupo Eletrobras que assumisse os riscos do empreendimento e liderasse a proposta vencedora.

Para Ivan Camargo, professor da Universidade de Brasília (UnB) e especialista em energia, o fato de nenhum dos candidatos ter dito que mudaria contratos é um avanço fantástico: São obras estratégicas, sagradas, em que não se pode agir com irresponsabilidade.

Paulo Pedrosa, presidente da Associação Brasileira de Grandes Consumidores Industriais de Energia e de Consum i d o r e s L i v r e s (Abrace), concorda: Uma perspectiva de quebra de contrato levaria ao aumento da percepção do risco. É prova de amadurecimento do país.

A presidenciável D i l m a R o u s s e f f (PT) afirma que Belo Monte é uma realidade e uma necessidade: A energia é essencial para que sejam atingidos os objetivos econômicos, sociais e ambientais do desenvolvimento sustentável. Hoje é imperativo que a construção de novas usinas esteja em harmonia com o meio ambiente.

E isso é possível. A hidrelétrica deixa de ser uma simples planta de transformação de energia hidráulica em elétrica e passa a ser o vetor do desenvolvimento social local, com a redução da pobreza.

Recentemente, o tucano José Serra declarou, em debate com Dilma, que não é contra a obra, mas deixou claro que vai se debruçar para corrigir o que considera absurdos ambientais.

Um assessor da campanha de Serra explicou ao GLOBO que o presidenciável não pretende mexer nas regras já impostas, e sim olhar com lupa o custo-benefício de Belo Monte, ver onde é possível economizar, tornar mais rigorosa a fiscalização ambiental e verificar se a população ribeirinha será compensada.

Serra disse que antes de aprovar qualquer novo grande projeto, o governo tucano produzirá uma avaliação ambiental detalhada, introduzindo uma nova política para a questão: No caso de Belo Monte, resta garantir que as condicionantes da licença sejam cumpridas integralmente.

Usar energia renovável é bem melhor do que construir termelétricas com fontes fósseis, mas não podemos enfiar goela abaixo das populações locais os efeitos danosos futuros dessas obras. Num governo tucano, o licenciamento de Belo Monte teria sido bem mais transparente e participativo, teria tido mais cuidado com o meio ambiente e com os ecossistemas da Amazônia.