Título: Na plataforma, só 10% made in Brazil
Autor: Bôas, Bruno Villas
Fonte: O Globo, 31/10/2010, Economia, p. 51
Produtos de maior valor agregado são importados de EUA, China e Coreia Os equipamentos comprados de fornecedores brasileiros pela Petrobras para equipar suas plataformas de petróleo ainda estão limitados a itens de baixo valor agregado. Segundo dados da Associação Brasileira de Máquinas e Equipamentos (Abimaq), o setor brasileiro fornece apenas 10% dos bens de capital (máquinas e equipamentos) utilizados em uma plataforma.
Módulo de energia, bombas, válvulas, compressores, tubos e outros produtos de maior valor agregados são importados. Vêm de países como EUA, Coreia do Sul, China, Alemanha diz José Velloso, vice-presidente da Abimaq.
O estudo da consultoria Booz & Company endossa as estatísticas da associação. Em uma recente plataforma da Petrobras não identificada pela pesquisa , apenas 111 fornecedores de equipamentos e sistemas eram brasileiros, de um total de 397 cadastrados pela Petrobras para o projeto.
Arthur Ramos, responsável pelo estudo, explica que, dos principais grupos de equipamentos, 37% têm predomínio de fornecedores estrangeiros. Outros 38% não possuem similar nacional, como turbogeradores, compressores centrífugos e motores a gás: Esses grupos são exatamente os equipamentos mais caros de uma plataforma. Isso mostra o grande potencial de crescimento do setor, que pode crescer muito e gerar centenas milhares de empregos se superar seus gargalos.
Humberto Barbato, presidente da Associação Brasileira da Indústria Elétrica e Eletrônica (Abinee), afirma que a desvalorização do dólar está empurrando o setor para um processo de desindustrialização: O câmbio criou um grande estímulo para a substituição de componentes nacionais por importados. E isso se agrava a cada dia, de forma que assistimos a uma desindustrialização do setor. Em vez de importar componentes, já se importam produtos acabados.
Bruno Musso, superintendente da Organização Nacional da Indústria do Petróleo (Onip), defende a criação de uma política industrial para o setor, embora reconheça que os fornecedores também precisam fazer o dever de casa e investir em tecnologia.
Em termos gerais, precisamos aumentar investimentos em tecnologia, em produtividade.
Mas precisamos de política industrial do setor.
Ele se credencia para isso afirma.
Para o consultor Adriano Pires, do Centro Brasileiro de Infraestrutura (Cbie), a solução do problema não pode passar pelo aumento da reserva do mercado nacional nos projetos de exploração e produção.
Ninguém é contra a Petrobras comprar de fornecedores locais. Mas criando reservas em vez de incentivar as empresas, o governo apenas gera mais ineficiência explica.
Na média de todos os setores da atividade de petróleo como dutos, refinarias, petroquímicas e exploração e produção , o conteúdo nacional permanece estável em 75% nos últimos quatro anos, segundo dados oficiais. Isso ocorre porque, apesar da queda das encomendas à indústria nacional em exploração e produção, a atividade de refino (que tem alta participação nacional) passou a investir mais no período, permitindo a manutenção da média estável em 75%. (Bruno Villas Bôas)