Título: Brasil estuda reforçar ação contra importados
Autor: Oliveira, Eliane; Barbosa, Flávia
Fonte: O Globo, 31/10/2010, Economia, p. 56
Governo pode adotar mais medidas antidumping. Diretor-geral da OMC diz que intervenções no câmbio preocupam
BRASÍLIA. Às vésperas da reunião de líderes do G-20 (grupo que reúne as 20 maiores economias do mundo), que acontecerá nos próximos dias 11 e 12, na Coreia do Sul, os ministérios da Fazenda e do Desenvolvimento discutirão, em encontro que acontecerá em meados desta semana, a conveniência de se intensificar o uso de medidas antidumping, ou seja, contra a importação de produtos por valores abaixo do preço de custo.
O foco é especialmente em produtos industrializados chineses que hoje respondem por cerca de 40% de todos os processos de defesa comercial instaurados no Brasil.
Esse caminho tem sido defendido pelo ministro da Fazenda, Guido Mantega, que vem insistindo nessa estratégia, como forma de melhorar o desempenho da balança comercial.
Segundo uma fonte, a medida não teria impacto direto no câmbio, ou seja, não resolveria o problema do real valorizado frente ao dólar, que tirou rentabilidade dos exportadores brasileiros. No entanto, poderia ajudar a segurar o superávit comercial, via redução de importações de mercadorias, cujos preços estão abaixo dos praticados no mercado internacional e no Brasil. Brinquedos, eletrodomésticos, têxteis e confecções são alguns exemplos.
A expectativa do governo brasileiro é que as 20 maiores economias do mundo cheguem a um acordo, mesmo que genérico, condenando a manipulação cambial que tira competitividade dos parceiros internacionais. A China, por exemplo, mantém sua moeda desvalorizada artificialmente em relação ao dólar. E os Estados Unidos não param de inundar seus mercados com dinheiro, para estimular sua combalida economia doméstica, emitindo assim mais dólares e derrubando o valor de sua moeda.
Brasil poderá considerar que câmbio chinês é subsídio As tentativas internacionais de manipular as taxas de câmbio também são uma preocupação da Organização Mundial do Comércio (OMC), embora seu diretor-geral, Pascal Lamy, em entrevista à edição de ontem do jornal alemão Welt am Sonntag, tenha dito que não há uma guerra cambial.
Eu não chamaria de uma guerra, mas de tensões e atritos.
As intervenções descoordenadas nas taxas de câmbio me preocupam, afirmou Lamy, acrescentando que teme-se uma série de medidas protecionistas.
A tendência brasileira, é que, se não houver compromisso multilateral, o país adote o mesmo caminho dos EUA, onde o Congresso, pressionado pelas indústrias locais, é palco de tramitação de projeto que classifica o câmbio chinês como subsídio ilegal. Isso permitiria a sobretaxação de produtos.
Se a China entrar contra os EUA na OMC, o caso terá duração de uns dois a três anos e, até lá, os produtos chineses serão sobretaxados no mercado americano. Não podemos ficar parados explicou a fonte.
O fato é que, ao encontrar barreiras no mercado americano, os chineses vão desovar suas mercadorias em outros países a qualquer preço. Um deles é o Brasil, que somente nos nove primeiros meses deste ano importou 64,3% a mais da China do que em igual período de 2009. Do total comprado, US$ 18,3 bilhões, a maioria foi eletroeletrônicos, máquinas e equipamentos, e siderúrgicos.