Título: China critica EUA e medidas do Fed
Autor: Oliveira , Eliane ; Bôas , Bruno Villas
Fonte: O Globo, 09/11/2010, Economia, p. 20

Obama diz que injeção de US$ 600 bilhões é boa "para todo o mundo"

PEQUIM e NOVA DÉLHI. A decisão do Federal Reserve (Fed, banco central americano) de injetar US$ 600 bilhões no sistema financeiro dos Estados Unidos até meados de 2011 causará uma maior instabilidade nos mercados mundiais, afirmou ontem o vice-ministro chinês de Finanças, Zhu Guangyao.

Já o presidente americano, Barack Obama, saiu em defesa da medida anunciada na semana passada afirmando que é boa não só para os EUA, mas para o mundo.

¿ Direi que o dever do Fed, meu dever, é fazer com que a economia cresça. E isso não é bom apenas para os EUA, isso é bom para todo o mundo ¿ afirmou Obama na Índia, primeira escala de uma viagem de dez dias à Ásia. ¿ E o pior que poderia acontecer para a economia mundial, não apenas para nós, é ficarmos sem crescer ou com um crescimento muito limitado.

Às vésperas da reunião do G-20, nos próximos dias 11 e 12 em Seul, na Coreia do Sul, Zhu destacou que a decisão do Fed fará com que um grande volume de dinheiro entre e saia do sistema financeiro de diferentes países, em busca de lucros de curto prazo.

¿ Como emissor de uma grande moeda de reserva, os EUA, ao lançar uma segunda rodada de afrouxamento monetário (injeção de recursos no mercado) neste momento, não reconheceram sua responsabilidade de estabilizar os mercados globais e não pensaram no impacto da liquidez excessiva nos mercados emergentes ¿ afirmou o vice-ministro.

Na semana passada, o Fed anunciou que pretende comprar US$ 600 bilhões de títulos da dívida soberana de longo prazo.

Isso aumentará a oferta de dólares no sistema bancário, o que pode animar o mercado de crédito.

Espera-se também que a decisão reduza o rendimento dos bônus do Tesouro, baixando as taxas de juros de hipotecas e de crédito ao consumidor e a empresas.

Ao enfraquecer o dólar ¿ com uma enxurrada da moeda no mercado ¿, as exportações americanas também se tornariam mais competitivas, e a alta nas bolsas de valores ¿ iniciada em agosto ¿ continuaria.

Os EUA normalmente criticam a China, acusando-a de desvalorizar deliberadamente sua moeda, o yuan, para impulsionar suas exportações. Agora, a China acusa os EUA de fazerem o mesmo. Brasil, Alemanha e Rússia também criticaram a decisão americana, pois pode valorizar suas moedas e prejudicar suas exportações.

Lideranças dos dois países abordarão o tema em Seul Segundo Zhu, a China abordará o tema com os EUA em Seul, pois espera que a política monetária americana ajude o crescimento global e que Washington se responsabilize por seus efeitos em outros países.

O encontro do G-20 é visto como uma oportunidade para que os líderes dos países que representam 85% do PIB mundial evitem que a ¿guerra cambial¿ se amplie e se converta em uma onda de protecionismo global.