Título: Lula diz que defenderá mecanismo de controle do sistema financeiro no G-20
Autor: Oliveira , Eliane ; Bôas , Bruno Villas
Fonte: O Globo, 09/11/2010, Economia, p. 20

Para presidente, é preciso controlar especulação. Dólar sobe 1,13% frente ao real

Eliane Oliveira e Bruno Villas Bôas

BRASÍLIA e RIO. O presidente Luiz Inácio Lula da Silva defendeu ontem, no programa semanal de rádio ¿Café com o Presidente¿, a criação de um mecanismo para fiscalizar a alavancagem do mercado financeiro internacional.

No jargão do mercado, um banco está alavancado quando empresta um valor muito acima de seu patrimônio líquido.

Nos EUA, antes de a crise estourar, os bancos chegaram a conceder crédito num montante equivalente a mais de 30 vezes seu patrimônio. A proposta de controle é uma das prioridades de Lula a serem levadas à reunião dos líderes das 20 maiores economias do mundo, o G-20, que começará depois de amanhã em Seul, na Coreia do Sul.

A desvalorização das moedas americana e chinesa e a preocupação do Brasil com políticas contracionistas da Europa também estão na pauta.

As incertezas quanto ao resultado prático da reunião do G-20 mexeram com os mercados ontem.

O dólar subiu no mercado mundial, recuperando parte da desvalorização da última semana.

No Brasil, a moeda fechou em alta de 1,13%, a R$ 1,699, também influenciada por rumores sobre a saída do presidente do Banco Central (BC), Henrique Meirelles.

Lula chamou de ¿irresponsabilidade de 2008¿ a crise internacional e disse que o sistema financeiro não pode mais continuar sem controle.

¿ É preciso, no mínimo, que haja um instrumento multilateral que possa fiscalizar a alavancagem do sistema financeiro mundial, para evitar especulação, sobretudo como aconteceu no mercado imobiliário americano, ou no mercado futuro, em especial de commodities ¿ afirmou Lula.

Lula voltou a afirmar que existe uma guerra cambial e alertou que a desvalorização do dólar e do yuan está causando desequilíbrio no comércio mundial.

O presidente antecipou que o Brasil propõe o compromisso de todos os países com uma política cambial neutra (ou seja, sem resultados dirigidos), para que os parceiros internacionais tenham condições de igualdade no comércio mundial.

O presidente, que antes passará por Moçambique para, em seguida, juntar-se à presidente eleita Dilma Rousseff em Seul, falou sobre sua expectativa: ¿ Chego ao G-20 com a mesma perspectiva com a qual participei pela primeira vez. Acho que o G-20 deu uma contribuição importante, mas ainda não constituiu os instrumentos multilaterais capazes de evitar que novas crises aconteçam ¿ disse Lula. ¿ Estamos percebendo uma demora nos EUA e na Europa para resolver a crise, sobretudo na questão interna, do consumo. E isso é condição básica para que a economia volte à normalidade.

Sobre sua ida a Moçambique, Lula disse que, além de inaugurar três núcleos de universidade aberta e uma fábrica de antirretrovirais (remédios para combater a Aids), vai participar de encontros empresariais. Ele lembrou que diversas empresas brasileiras investem em Moçambique, como a Vale.

Bolsa de SP fecha em alta de 0,07%, aos 72.657 pontos A alta do dólar ontem no Brasil mostra que a possível saída de Meirelles do BC terá impacto nos mercados: ¿ Meirelles tem a confiança do mercado, e mudanças na presidência do BC sempre são motivos de instabilidade ¿ disse Rodrigo Nassar, da Hencorp Commcor Corretora.

Sobre o encontro do G-20, Reginaldo Siaca, gerente de câmbio da Advanced Corretora, explicou que existem ainda incertezas sobre como os países vão reagir às medidas do Federal Reserve (Fed, banco central americano) para aquecer sua economia: ¿ Não existe nada de concreto sobre o que deve acontecer na reunião.

Na Bolsa de Valores de São Paulo (Bovespa), o dia foi de expectativa sobre indicadores da China a serem divulgados na madrugada de quinta-feira.

O Ibovespa, principal referência da Bolsa, avançou 0,07%, aos 72.657 pontos.