Título: Pesquisa: ajuste fiscal afeta inflação
Autor: Duarte , Patrícia ; Doca , , inflaca Geralda
Fonte: O Globo, 09/11/2010, Economia, p. 25

BC faz estudo inédito com 64 instituições sobre expectativas econômicas

Patrícia Duarte

BRASÍLIA. Com o objetivo de reforçar sua posição sobre a importância de um ajuste fiscal no setor público para a condução da política monetária e alinhavar melhor as expectativas dos agentes econômicos, o Banco Central (BC) divulgou ontem pesquisa inédita feita com 64 instituições financeiras. Segundo a sondagem, uma redução equivalente a 1% do Produto Interno Bruto (PIB) no gasto público corrente, durante um período de 12 meses, faria a inflação cair no mesmo período. Pela média das respostas, essa queda seria de 0,34 ponto percentual do IPCA e, pela mediana, de 0,31 ponto.

O resultado mostra que o BC poderia, eventualmente, trabalhar com uma política de juros menos agressiva, até mesmo com reduções na taxa básica Selic, hoje em 10,75% ao ano.

Não é de hoje que a autoridade monetária defende mais austeridade fiscal como ferramenta importante para novos cortes nos juros, uma vez que as despesas menores do governo reduziriam a quantidade de dinheiro em circulação no país e a pressão sobre a inflação.

Mas o Ministério da Fazenda não concorda com o raciocínio e defende que já há espaço para mais cortes nos juros, em linha com o pensamento de boa parte da equipe da presidente eleita, Dilma Rousseff (PT). Isso derivaria do fato de que o modelo adotado pelo BC refletiria uma estrutura defasada da economia.

Estaria subestimada, por exemplo, a velocidade dos investimentos realizados pelo setor produtivo para ampliar a capacidade de oferta de bens ¿ se esta capacidade for estreita, cresce a pressão inflacionária.

O BC também perguntou aos especialistas qual seria o esforço monetário que teria de fazer para produzir o mesmo efeito sobre a demanda que uma contração de 1% do PIB nos gastos públicos. A resposta foi que teria de elevar a Selic em um ponto percentual, em média, em 12 meses. Esse aumento dos juros, porém, reduziria a inflação em apenas 0,25 ponto, também pela média das respostas obtidas. Ou seja, teria um efeito mais fraco do que uma redução nas despesas.

Esse números, no entanto, ainda estão bastante dispersos entre os analistas quando todas as respostas são olhadas.

Com a divulgação da pesquisa ¿ feita entre setembro e outubro ¿, o BC espera que os agentes comecem a ter suas expectativas alinhadas. Por exemplo: no caso do impacto da política fiscal na inflação, cerca de 20% das respostas ficaram entre 0,6 e 0,5 ponto percentual no IPCA, enquanto outra fatia calculou um reflexo próximo a 0,20 ponto.