Título: Obama respalda Índia, de olho em China e Paquistão
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Fonte: O Globo, 09/11/2010, O Mundo, p. 26
Apoio à vaga no Conselho de Segurança pode alterar equilíbrio de forças
NOVA DÉLHI
Ao anunciar ontem o apoio dos Estados Unidos à demanda da Índia por uma vaga permanente no Conselho de Segurança da ONU, o presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, indicou uma mudança na política externa americana, com mensagens distintas aos países da região: o reforço da Índia como parceiro; um recado ao Paquistão de que não estaria fazendo o bastante para combater o terrorismo; e uma tentativa de contrabalançar a influência chinesa, no que pode modificar o equilíbrio de forças no continente.
Além da Índia, Japão tem o respaldo americano a uma vaga no Conselho de Segurança. Mas, ontem, Obama não mencionou se apoiará outros aspirantes, como o Brasil e Alemanha, que também buscam uma vaga permanente. Os quatro países integram o G-4, que reivindicam a ampliação do órgão, hoje um clube de cinco nações, com direito a veto ¿ EUA, China, Rússia, França e Reino Unido ¿ e outros dez membros rotativos.
¿ A ordem internacional justa e sustentável que os EUA buscam inclui uma ONU que seja eficiente, efetiva, com credibilidade e legítima ¿ disse Obama, no Parlamento indiano. ¿ Espero ver um Conselho de Segurança reformado que inclua a Índia como membro permanente.
Ontem foi o terceiro e último dia da viagem de Obama à Índia. Durante o dia, ele elogiou o rápido desenvolvimento indiano, acrescentando que a relação de Washington com Nova Délhi será ¿uma das parcerias que definirão o século XXI¿, e deu ¿boasvindas à Índia como potência global emergente¿.
¿ A Índia não está simplesmente emergindo. A Índia já emergiu ¿ afirmou Obama.
A visita foi a primeira escala da viagem de dez dias à Ásia com a missão de ¿gerar emprego nos EUA¿. Ela mostra o fim das desconfianças em relação à Índia como potência nuclear e marca como o Paquistão, um tradicional adversário do vizinho, estaria se afastando dos EUA. Além disso, representa uma decisão incômoda para a China, membro permanente do conselho e rival econômico dos indianos.
¿ A Índia e os EUA têm uma história conjunta difícil na ONU. Nem sempre votaram juntos, e tiveram opiniões divergentes numa série de assuntos.
Então, o presidente expressa uma confiança de que os interesses dos dois países estejam convergindo.
Mas também reflete uma visão de que uma Índia mais forte terá um efeito de estabilização sobre o sistema internacional ¿ disse Evan Feigenbaum, diretor para a Ásia do Eurasia Group.
Islamabad critica decisão americana
Passar das palavras à ação pode não ser fácil, considera Feigenbaum, porque a entrada requer uma ampla reforma estrutural no conselho. Tanto Obama quanto seus antecessores têm apoiado a entrada do Japão, até hoje sem resultado. A vaga permanente traria influência significativa sobre o que é votado e como é votado. Brasil e Turquia, por exemplo, usaram suas posições de membros não permanentes para tentar buscar alternativas às sanções ao programa nuclear do Irã.
Na China, o assunto foi noticiado de forma breve. Já o Paquistão reagiu, dizendo que a medida ¿acrescenta dificuldades ao processo de reforma do conselho¿ e que o país ¿espera que os EUA adotem uma visão moral e não se baseiem num expediente temporário ou em exigências da política¿.
Em Nova Délhi, Obama se reuniu com o premier Manmohan Singh e disse que afirmará ao Paquistão que ¿abrigos a terroristas são inaceitáveis¿.
Ele chegou à cidade no domingo, depois de assinar, em Bombaim, acordos comerciais de US$ 10 bilhões.
Hoje, estará na Indonésia, seguindo depois para Coreia do Sul, onde será a reunião do G20, e Japão.