Título: Rio reflete uma tendência nacional
Autor: Bastos, Isabela; Magalhães, Luiz Ernesto
Fonte: O Globo, 14/11/2010, Rio, p. 30

Atividade econômica estimula o crescimento dos municípios médios

O presidente do IBGE, Eduardo Pereira Nunes, explicou que o estado do Rio reflete um fenômeno confirmado nacionalmente pelo Censo 2010. A tendência de que os grandes centros urbanos (não necessariamente capitais) estabilizem sua população, enquanto alguns municípios médios cresçam, impulsionados por novas atividades econômicas. Os empregos, que contribuem para o aumento da população, porém, geralmente não ocorrem na atividade original, mas na prestação de serviços.

¿ No Centro Oeste e no Norte do país, o agronegócio é o responsável por esse fenômeno.

Mas a maior demanda por emprego não está no campo.

Abrem-se vagas no comércio, novos hotéis são necessários, bem como instituições de ensino, entre muitos outros prestadores de serviços ¿ disse Eduardo Nunes.

Em Itaguaí, por exemplo, a prefeitura teve que destinar mais recursos para Saúde e Educação. Nos últimos seis anos, foram inauguradas 15 novas escolas e 12 postos de saúde. Em Porto Real (com 16.480 habitantes, crescimento de 36,2% na década) a Fundação Getúlio Vargas foi contratada pela prefeitura para assessorar a criação de um Plano Diretor. Esse tipo de legislação só é obrigatório para cidades com mais de 20 mil habitantes. Foram formados ainda consórcios interestaduais (reunindo cidades vizinhas do Rio, Minas Gerais e São Paulo) para dividir custos de manutenção de sistemas de saúde e de destino final de lixo, por exemplo.

A capital registrou crescimento de apenas 1,4% na década.

Pelos cálculos do IBGE, a cidade tem hoje pouco mais de 5,9 milhões de habitantes (82.320 a mais que em 2000).

¿ A redução do crescimento de uma capital pode trazer efeitos positivos. Em lugar de continuar a investir infinitamente em infraestrutura, o poder público pode começar a se dedicar a melhorar a qualidade do que existe ¿ avalia o economista Mauro Osório, estudioso dos ciclos de desenvolvimento do estado.

Entre as cidades que registraram grande crescimento está Itaguaí, devido à diversidade econômica com o desenvolvimento no entorno do Porto de Sepetiba. Ela ganhou 22,4% de habitantes na década, o maior entre as 20 cidades da Região Metropolitana. Já Itaboraí (12,4% de crescimento populacional na década) tem um pólo petroquímico (o Comperj) ainda em obras, com estimativa de operação a partir de 2013.

O economista Sérgio Besserman, que presidia o IBGE no Censo 2000, conta que os levantamentos realizados naquele ano já indicavam tendências que se confirmaram na pesquisa de 2010.

¿ Em 2000, o Censo já detectara sinais de que a população da capital se estabilizaria.

Acredito que na próxima década os municípios que apresentaram maior crescimento devido à dinâmica econômica também tenderão a se estabilizar ¿ disse Besserman.

Os números finais do IBGE só serão conhecidos no próximo dia 29. Até o dia 24, as informações coletadas passarão por revisões para permitir, por exemplo, a inclusão de entrevistas de moradores não localizados pela coleta de dados ou a contestação das informações por autoridades municipais.

Onde não for possível localizar os moradores, a população será estimada pela média dos domicílios da área.

Alguns municípios já estão questionando os dados do IBGE, como Nova Iguaçu e Niterói.

Pela pesquisa, Nova Iguaçu teria sido campeã na perda de população (-16, 6%) com 153.094 moradores a menos na década. A redução pode estar associada à emancipação de Mesquita, no fim da década de 90. Mesquita só aparece na pesquisa de 2010 com 159.865 habitantes. Uma comissão de servidores está analisando os dados do IBGE.

Umas das preocupações da prefeitura é com a possibilidade de perda de receitas, já que o tamanho da população é levada em conta para o repasse de recursos de ICMS e do SUS, além do Fundo de Participação dos Municípios.

Em Niterói, a população teria sofrido redução de 4% em dez anos.

¿ Não é possível que Niterói tenha perdido 18.373 habitantes em dez anos. A verdade é que, se constatarem que Niterói passou dos 500 mil habitantes, a União terá que aumentar os repasses federais para a cidade ¿ criticou o prefeito Jorge Roberto da Silveira.

Em vez de investir infinitamente em infraestrutura, o poder público pode se dedicar a melhorar a qualidade do que existe

Mauro Osório, economista

Na próxima década, os municípios que apresentaram maior crescimento devido à dinâmica econômica também tenderão a se estabilizar

Sérgio Besserman, economista