Título: Equipamentos: dados revelam dois países
Autor: Tinoco, Dandara
Fonte: O Globo, 20/11/2010, O País, p. 14

Taxa de aparelhos ultrapassa a da França, mas planos têm acesso privilegiado

Duas realidades distantes convivem no Brasil quando se trata de equipamentos de saúde de maior tecnologia - como tomógrafos e aparelhos de ressonância magnética. De acordo com a pesquisa de Assistência Médico-Sanitária (AMS), o número deles no país vem crescendo e ultrapassa o de países europeus, como Espanha e França, de acordo com números da Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE). No entanto, os aparelhos se concentram na rede privada e grande parte não está disponível ao Sistema Único de Saúde (SUS).

O número de equipamentos de ressonância magnética, por exemplo, aumentou em 118,4% entre 2005 e 2009. A taxa por milhão de habitantes é de 6,3. Para os clientes de planos de saúde, a proporção salta para 19,8, ficando atrás apenas de Japão e Estado Unidos. Já para os usuários do SUS é de 1,9, à frente apenas do México. Apenas 30,11% do número total de aparelhos estão disponíveis ao SUS.

Para o médico sanitarista e pesquisador do IBGE Marco Antônio Andreazzi, há "dois países" quando se trata dos equipamentos de alta tecnologia:

- O acesso é bastante diferenciado entre aqueles que são oferecidos pelo SUS e aqueles que são oferecidos pelo sistema suplementar de saúde através dos planos.

As proporções se repetem para os tomógrafos computadorizados: a taxa no Brasil é de 15,8 por milhão de habitantes. Levando em conta os que têm acesso a planos de saúde é de 44,3 (atrás de Japão e Austrália). Já considerando os que dependem apenas do sistema público é de 6, novamente sucedido do México. Do total de aparelhos no país, 37,93% estão disponíveis ao SUS.

Especialista: "Quem pode pagar mais entra na frente"

Segundo a médica Ligia Bahia, do Laboratório de Economia da Saúde da UFRJ, o investimento em aparelhos ocorre de acordo com o retorno do pagamento dos exames:

- Tenho observado com muita preocupação esse sistema de saúde extremamente injusto, que não funciona de acordo com gravidade do paciente. Quem pode pagar mais entra na frente da fila.

A AMS analisou também a distribuição de postos de trabalho médico. O Norte tem a menor taxa, 1,9 por mil habitantes, seguido pelo Nordeste, com 2,3. Já no Sudeste há a maior proporção, 4,3. A oferta de postos para nível superior cresceu 27% entre 2005 e 2009 (de 870,4 mil para 1,1 milhão). Desse total, 51,5% eram ofertados no Sudeste.