Título: Após reunião de Caixa e Silvio Santos, PanAmericano diz não estar à venda
Autor: Rodrigues, Lino ; Farah, Tatiana
Fonte: O Globo, 20/11/2010, Economia, p. 36

Os dois bancos vão atuar juntos e distribuir produtos um do outro

A PRESIDENTE da Caixa, Maria Fernanda Coelho: reunião com Silvio Santos para traçar estratégias

SÃO PAULO. A presidente da Caixa Econômica Federal, Maria Fernanda Ramos Coelho, reuniu-se ontem pela primeira vez com o empresário Silvio Santos para definir uma estratégia de atuação conjunta com o PanAmericano, do qual o banco oficial é sócio. No encontro, que teve a participação do novo diretor superintendente do PanAmericano, Celso Ramos da Costa, tratou-se principalmente da integração de produtos e serviços das duas instituições. Em nota distribuída no início da noite, o PanAmericano listou os pontos tratados na reunião e informou que seus controladores firmaram posição de que o banco "não está à venda".

Segundo a nota, foi discutida a criação de um plano para que a Caixa distribua produtos e serviços do PanAmericano - como cartões, créditos consignado e imobiliário e leasing - e vice-versa. O PanAmericano disse ainda que haverá um plano de ação para transformar o banco "no maior agente de financiamento para pessoas físicas no país, nos segmentos em que atua".

A Caixa comprou 36,5% do capital do PanAmericano em dezembro (do capital com direito a voto, a instituição estatal tem 49%) e, quando começaria a participar da gestão, foi descoberto o rombo de R$2,5 bilhões nos balanços do banco do Grupo Silvio Santos. Com o estouro do caso e a demissão dos executivos do banco, na semana passada, a Caixa acabou indicando cinco dos oito novos diretores. A blindagem do PanAmericano se completou com a indicação de Maria Fernanda para presidir o Conselho de Administração, posto antes ocupado por Luiz Sandoval, que se demitiu do Grupo Silvio Santos anteontem.

Nos últimos dias, temendo dificuldades para conseguir captar novos recursos no mercado, por causa dos problemas do PanAmericano, os bancos de pequeno e médio portes pisaram no freio do crédito, reduzindo a oferta de financiamentos aos clientes. Com isso, preservavam as posições de caixa para fazer frente a eventuais dificuldades na ponta de captação.

- Os bancos passaram a última semana priorizando a liquidez, para ter um maior colchão de recursos que pudesse sustentar percalços. Para isso, emprestaram menos - disse o presidente da Associação Brasileira dos Bancos Comerciais (ABBC), Renato Oliva.

Sobre os rumores no mercado de que por causa do PanAmericano alguns bancos menores teriam sido forçados a suspender emissões de títulos, Oliva afirmou:

- A captação não diminuiu no mercado como um todo. Se aconteceu, foi absolutamente pontual. A tendência é que tudo volte ao normal rapidamente.

Citado como um dos bancos que estariam com dificuldade, o Bic Banco confirmou que suspendeu por 60 dias a venda de títulos de dívida que faria esta semana. Mas atribuiu a decisão ao fato de estar excessivamente capitalizado, com R$650 milhões em caixa. Segundo o mercado, o BVA Banco também teria esperado um momento melhor para captar recursos.

Oliva explicou que o mercado ficou muito preocupado com os problemas do PanAmericano no início da semana passada, mas acabou mais tranquilo assim que soube que Silvio ofereceu seus bens como garantia para o empréstimo do Fundo Garantidor de Créditos (FGC).

- Foi uma decisão inteligente que deixou o mercado aliviado. O cenário negro do início da semana passada acabou não se concretizando - disse.

Segundo Oliva, assim que os indícios de fraude no banco de Silvio Santos vieram à tona, os bancos passaram a elaborar relatórios para os acionistas, pois ninguém queria que houvesse dúvidas de que as operações financeiras estavam corretas.

- O problema com o banco de Silvio Santos foi uma exceção. Não existem outros PanAmericano por aí. Foi um caso específico - garantiu.