Título: Uma posição esperada, mas criticada
Autor: Godoy, Fernanda
Fonte: O Globo, 20/11/2010, O Mundo, p. 41
RIO e SÃO PAULO. Previsível, mas um erro. Na opinião de analistas em política externa e ex-diplomatas, a abstenção do Brasil na votação de uma resolução nas Nações Unidas condenando o apedrejamento no Irã já era esperada, devido à política externa adotada nos últimos tempos. No entanto, para a maioria dos especialistas ouvidos pelo GLOBO, o Brasil perdeu uma oportunidade de marcar presença como um país contrário à pena de morte.
- Foi uma oportunidade perdida não defender com clareza o que é uma tradição no Brasil (condenar a pena de morte) - observou José Botafogo Gonçalves, presidente do Centro Brasileiro de Relações Internacionais. - O Brasil não devia tomar partido político entre EUA e Irã.
Para Rubens Barbosa, ex-embaixador em Washington, a abstenção foi uma posição coerente, já que o governo Lula nunca condenou o Irã: nem no programa nuclear, nem em questões de direitos humanos.
- Mas acho que foi um equívoco - disse Barbosa. - Ninguém deixa de ter relações com China ou Arábia Saudita porque tem uma política diferente.
Para Antonio Marcio da Cunha Guimarães, professor de direito internacional da PUC de São Paulo, o Brasil adotou uma posição "covarde" e afirma ter vergonha da decisão.
- Não pode deixar de se manifestar porque tem amizade. Tem que dizer: sou seu amigo, mas você está errado.
Professor titular de Relações Internacionais da UnB, Eduardo Viola vê outro motivo na posição brasileira. Ele destaca a vontade de não desagradar aos regimes autoritários para não prejudicar a candidatura ao Conselho de Segurança da ONU.
- Não surpreende. Já era esperado em relação à política do governo Lula, mas rompe em relação a posições passadas do Brasil - observou. - O argumento do Itamaraty é que a política de condenação não é efetiva. Digo que é pouco efetiva, mas não condenar é pior.
A abstenção ocorre meses depois de o governo brasileiro oferecer refúgio a Sakineh Mohammadi Ashtiani, iraniana condenada à morte por apedrejamento por adultério.
- A abstenção foi coerente. O que foi dissonante foi o oferecimento de asilo - disse Viola.
Barbosa também discorda da estratégia de não condenar:
- Não deu certo com nenhum país: nem Cuba, nem China, nem Mianmar.