Título: MEC aciona PF contra uso de celular
Autor: Weber, Demétrio; Paul, Gustavo
Fonte: O Globo, 08/11/2010, O País, p. 3

Repórter mostra falha de segurança; alunos teriam tuitado durante prova

RIO, BRASÍLIA, BELO HORIZONTE E TERESINA. O Ministério da Educação (MEC) acionou ontem a Polícia Federal para investigar o uso de celulares nos locais de prova. O presidente do Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais (Inep), Joaquim José Soares Neto, argumentou ontem que não houve falhas dos fiscais do Enem e que a instituição não tem ¿poder de polícia¿ para inibir os alunos que tentaram burlar as regras do Enem.

¿ O Inep não tem poder de polícia. Ao termos conhecimento de alguma evidência de que estariam usando aparelhos (celulares ou eletrônicos na prova), encaminhamos à Polícia Federal ¿ afirmou Soares Neto.

Em Belo Horizonte, um estudante de 18 anos foi conduzido à Polícia Federal por suspeita de tentar fraudar o exame. Fiscais constataram que ele havia postado em seu perfil no Twitter a capa da prova deste domingo, enquanto ainda realizava o teste. A Polícia Militar foi acionada e o candidato não pôde terminar a prova. Ele foi liberado no início da noite de ontem.

Mesmo sendo proibido levar celular para os locais de prova, um repórter do ¿Jornal do Commercio¿, de Pernambuco, conseguiu entrar na sala de aula, onde fez o Enem, com o aparelho no bolso. Depois de ter acesso ao tema da Redação, às 13h26m, horário de Pernambuco, o jornalista foi até ao banheiro e enviou um torpedo para o jornal contando que estudantes teriam que escrever sobre ¿O trabalho na construção da dignidade humana¿.

Além de driblar a segurança, o repórter conseguiu fazer questões da prova usando lápis preto, o que também era proibido. No site do ¿Jornal do Commercio¿, ele diz ¿consegui fazer a prova inteira sem ser advertido, inclusive o rascunho da redação. Era um lápis de madeira comum, e não uma lapiseira que parecesse com uma caneta¿.

Em nota, depois de o MEC anunciar que processaria o repórter, o jornal diz que a divulgação do tema da redação ¿ não configura qualquer tipo de prejuízo para os estudantes, uma vez que eles estariam em sala de provas durante o fato¿.

O problema com os cartões de resposta e as provas com questões repetidas levaram o Enem aos trending topics do Twitter. Alguns, no entanto, usaram a rede para dizer que tuitavam direto do local de provas. O MEC também anunciou que eles seriam rastreados pela PF.

A sucessão de erros no Enem já faz o estudante Geomar Feitosa da Cruz, de 37 anos, de Teresina, no Piauí, perder as esperanças de cursar Engenharia Mecânica. No sábado, ao fazer a prova de ciências da natureza, ele percebeu que faltavam oito questões de química e física e que oito perguntas eram repetidas.

A prova de Geomar era a amarela.