Título: Erros em série levam credibilidade à discussão
Autor: Weber, Demétrio; Paul, Gustavo
Fonte: O Globo, 08/11/2010, O País, p. 4

Especialistas lamentam falhas, mas afirmam que é preciso manter e aperfeiçoar atual formato do Enem

BRASÍLIA e RIO. Reitores, educadores e parlamentares ligados à área do ensino, além de especialistas em concurso, lamentaram ontem as falhas na prova do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem). Um ano após ser cancelada por conta de um vazamento, a prova teve novos problemas.

Apesar dos tropeços, especialistas manifestaram a preocupação de manter e aperfeiçoar o atual formato do Enem, cujo objetivo é substituir os vestibulares nas universidades federais.

O presidente da Associação Nacional dos Dirigentes das Instituições Federais de Ensino Superior (Andifes), Edward Madureira Brasil, disse que falhas abalam a credibilidade do exame: ¿ Acredito que compromete.

Já ganhou uma dimensão na mídia, e os próprios candidatos vão se sentir menos seguros.

Mas tudo vai depender de como será a reação do MEC ¿ disse Edward, ponderando que o problema em 2010 foi menos grave do que em 2009, quando houve vazamento da prova.

Diretora executiva da Associação Nacional de Proteção e Apoio aos Concursos (Anpac), a advogada e professora, Maria Thereza Sombra, classifica a troca nos cabeçalhos como um ¿erro artesanal¿: ¿ É um erro básico, artesanal, que não pode acontecer. O Inep não está preparado para realizar uma prova dessa envergadura.

O MEC tem que reestudar o Enem, principalmente na parte operacional. Os alunos que querem vagas na universidade foram prejudicados por dois anos seguidos.

Para Maria Thereza a realização de outra prova poderia levar algumas universidades a descartarem o Enem, mas deve ser avaliada.

Já o advogado especialista em concursos Leonardo Carvalho defende a anulação da prova: ¿ Quando acontece um erro, é de bom-tom repará-lo. Caso o próprio MEC não tome providências, os estudantes que se sentirem prejudicados devem procurar o Ministério Público Federal.

Para especialista, exame ¿não fica desmoralizado¿ Já Cesar Callegari, que é membro do Conselho Nacional de Educação, disse que não considera grave o erro no cabeçalho do cartão de respostas. Ele observou que o ideal é que um exame da magnitude do Enem não tenha esse tipo de falha: ¿ O Enem é hoje um patrimônio do sistema educacional brasileiro.

Não fica desmoralizado por conta disso. Mas é algo com que todos nós ficamos chateados.

Qualquer marola num processo que envolve 3,5 milhões de pessoas sempre pode ser aproveitado por quem não foi bem ¿ disse Callegari.

A reitora da Universidade Federal de Mato Grosso (UFMT), Maria Lúcia Cavalli Neder, minimizou os problemas. Ela disse que os funcionários da UFMT encarregados de supervisionar a aplicação do exame não fizeram contato para tirar dúvidas: ¿ Se eles não me ligaram é porque não houve problema.

A UFMT substituiu integralmente o vestibular pelo Enem, o que significa que os 5.100 calouros de 2011 serão selecionados com base apenas nas provas aplicadas ontem e anteontem.