Título: Violência requer resposta coordenada
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Fonte: O Globo, 23/11/2010, Opinião, p. 6

Os acontecimentos dos últimos dias, com um pico de agravamento no fim de semana, quando bandidos armados atearam fogo a três carros, jogaram uma granada contra um veículo da Aeronáutica, na Linha Vermelha, e voltaram a promover arrastões em série em diversos pontos da cidade, não deixam mais margem a dúvidas: as quadrilhas de traficantes do Rio estão por trás dessa onda de violência, numa ação orquestrada de provocação aos organismos de segurança, certamente como represália à instalação de Unidades de Polícia Pacificadora em favelas recuperadas do subjugo do crime organizado. Reforça esta certeza a descoberta de que facções rivais do tráfico se aliaram para agir em conjunto, num pacto firmado em abril, segundo o serviço de inteligência da Secretaria de Segurança Pública.

A reação dos bandidos não surpreende. Expulsos das áreas que dominavam, era previsível que os criminosos passassem a diversificar as formas de agressão à sociedade, bem como buscassem abrigo em comunidades que ainda não foram liberadas pelas UPPs. Os atos de terrorismo refletem o desespero dos traficantes com uma política de segurança pública que, no essencial, tem se mostrado positiva - particularmente com a política de resgate das favelas via ocupação policial permanente.

Mas, se as quadrilhas estão mesmo na defensiva, não é o caso de achar que o problema da violência se resolverá pela força da inércia. Não é hora de cantar vitória, até porque, mesmo aparentemente em vazante, o tráfico ainda dispõe de grande poder de fogo. É fundamental que se aproveite este momento de suposto refluxo dos criminosos para reforçar ainda mais as ações de combate ao crime organizado.

O governo estadual decidiu tomar uma série de medidas pontuais, de modo a fazer frente imediata às ações criminosas em série. A iniciativa é importante. Mas, assim como as UPPs, um modelo bem sucedido para enfrentar demandas imediatas, providências de curto prazo são apenas parte de um programa mais amplo que se deve adotar contra o banditismo. Não resolve o problema expulsar os bandos de uma área e deixar outras regiões a descoberto, reféns da migração da violência. Convém lembrar também que a polícia fluminense precisa encarar como inescapável o momento em que terá de estar preparada para enfrentar aquela que pode ser a mãe de todas as operações contra o crime no Rio - a ocupação do Complexo do Alemão, quartel-general do tráfico e refúgio conhecido de bandidos excluídos de favelas resgatadas pelas UPPs.

Outro passo inadiável é acelerar a articulação entre os organismos de segurança nas esferas estadual e federal, essencial para cortar as fontes de suprimento (de armas e drogas) que são a artéria principal de alimentação do crime. Tais movimentos, com ações tópicas e operações estratégicas, devem ser o fundamento de uma mudança estrutural na segurança pública não apenas do Rio. Chegou-se a avanços inegáveis, que devem ser consolidados. E existem demandas que só podem ser efetivamente enfrentadas a partir de um novo patamar na guerra do Estado brasileiro contra a criminalidade.