Título: Para cada assento, um bilhete
Autor: Rosa, Bruno
Fonte: O Globo, 23/11/2010, Economia, p. 27
Empresas fazem acordo com Anac para evitar caos aéreo no fim do ano. "Overbooking" fica proibido
Para evitar novo caos aéreo neste fim de ano nos aeroportos brasileiros, a Agência Nacional de Aviação Civil (Anac) fechou um acordo com as companhias de aviação, proibindo a prática de overbooking entre 17 de dezembro e 3 de janeiro. Com isso, as empresas não poderão vender mais passagens do que o número de assentos disponíveis nos voos. Para fiscalizar, o órgão regulador terá 120 fiscais espalhados pelos principais aeroportos do país no período. Ainda assim, a Anac prevê que 18% dos trechos sairão com atrasos superiores a 30 minutos - mesmo nível do fim de 2009.
O plano, que é feito anualmente, foi antecipado este ano devido ao bom momento econômico do setor. Segundo a Anac, espera-se uma ocupação dos voos entre 90% e 95%. Serão ao todo cerca de 14 milhões de passageiros viajando em dezembro. As empresas aéreas esperam altas de até 40% no número de clientes transportados em relação ao mesmo período de 2009. Por isso, as companhias estão recomendando ao cliente chegar até uma hora e meia antes do voo.
Entre as medidas anunciadas ontem pela Anac, conforme O GLOBO antecipou no domingo, estão o endosso do bilhete caso o voo do passageiro seja suspenso ou cancelado. Para evitar problemas na malha aérea, as companhias manterão, neste fim de ano, 17 aeronaves extras, que estarão espalhadas pelos principais aeroportos do país. De olho no maior fluxo de clientes nas próximas semanas, as empresas irão contratar ainda 3.130 funcionários, entre tripulação e pessoal de terra.
- São medidas para este fim de ano, quando a ocupação vai para o máximo e não sobra assento vazio. O overbooking não é proibido. As companhias aéreas praticam isso. Mas há garantia de que não haverá essa prática neste fim de ano. Das 14 milhões de pessoas esperadas, 8 milhões vão viajar a partir da alta temporada, que começa no dia 15 de dezembro - disse Solange Vieira, presidente da Anac, após reunião realizada com TAM, Gol, WebJet, Azul, Avianca e Trip, que contou ainda com representantes de Infraero, Receita Federal, Polícia Federal e Departamento de Controle do Espaço Aéreo (Decea).
Infraero contratará 922 funcionários
Solange lembra que, se um cliente tiver qualquer tipo de problema para endossar sua passagem, deve procurar um fiscal da Anac. Caso o funcionário da agência não consiga resolver o problema, advogados dizem que o ideal é recorrer à Justiça, através dos postos de atendimento nos aeroportos, que também terão esquema especial de atendimento, embora ainda não tenham os horários definidos. Mas o diretor de Relações Institucionais da Gol, Alberto Fajerman, faz ressalvas:
- Nós nos comprometemos com o endosso. O que não podemos garantir é que haverá espaço para todos. O dia de pico será no dia 23 de dezembro. Estamos recomendando que os clientes cheguem uma hora e meia antes do voo - afirmou, lembrando que a Gol contará 550 funcionários a mais neste fim de ano.
Para reforçar a equipe neste fim de ano, os funcionários da Anac tiveram as férias suspensas entre os dias 15 e 31 de dezembro. As companhias aéreas, em documento assinado com a Anac, terão de ocupar todas as posições de check-in nos aeroportos nos horários de maior movimento.
- O mercado doméstico deve crescer 22% neste fim de ano e o internacional, outros 15%. Além de cinco aviões reservas e dois mil funcionários extras, teremos aeronaves adicionais para os voos internacionais - disse Líbano Barroso, presidente da TAM, cujo plano de fim de ano acaba no fim de janeiro.
Com duas aeronaves reservas e 180 funcionários extras, a WebJet, que oferece um dos menores preços do mercado, espera transportar 40% mais, chegando a um total de 600 mil passageiros no fim de ano. A empresa está estimulando o check-in pela internet:
- Dependendo do local, vamos aumentar o número de funcionários entre 5% e 10% - afirmou Fábio Godinho, presidente da WebJet.
No caso de voos atrasados, as empresas deverão oferecer alimentação adequada após duas horas de espera. Se o tempo ultrapassar quatro horas, é preciso oferecer acomodação em local adequado e hospedagem (se necessário) com transporte.
A lista de exigências vai além. A Infraero também terá de seguir algumas ações, como a contratação de 922 novos funcionários e a compra de equipamentos, como ônibus (54), microônibus (30) e carrinhos de bagagem (13 mil). Além disso, terá de abrir o Terminal 2 do aeroporto de Porto Alegre e instalar um módulo provisório para o Terminal 2 em Brasília. O Decea terá um adicional de 14% no número de controladores de voos. Entre os voos internacionais, a Polícia Federal manterá em funcionamento todas as posições de controle de migração nos horários de maior movimentação.
De olho na Copa de 2014, a Anac tentará finalizar a criação de uma sala de coordenação no aeroporto de Guarulhos, cujo objetivo é integrar as operações da Anac, Polícia Federal, Receita Federal, Infraero e companhias aéreas. A ideia é replicar a iniciativa em outros aeroportos do país.
As empresas se preparam. A Trip espera ter 80 aviões até 2014, o dobro do número atual. A Azul contará com mais 21 novos aviões já em 2011.
Sindicatos fazem manifestações hoje
As empresas aéreas têm pela frente duras negociações com os sindicatos dos trabalhadores. As conversas sobre reajuste salarial acontecem em dezembro. Segundo a diretora do Sindicato dos Aeronautas, Graziella Baggio, haverá manifestações nos principais aeroportos do país hoje. No Rio, haverá distribuição de informativos para os trabalhadores e passageiros às 8h no Santos Dumont e às 11h no Galeão:
- As reivindicações começaram no dia 30 de setembro e até hoje as companhias aéreas não se manifestaram. Pedimos reajuste de 15%.
Já as empresas dizem que as negociações estão em curso.
Ontem, o ministro dos esportes, Orlando Silva, demonstrou preocupação com a situação dos aeroportos para a Copa. Durante a Soccerex, feira de negócios do futebol realizada no Rio, o ministro disse que a ampliação dos aeroportos deve ser acelerada.
- A Infraero terá que alterar a conduta.
A Infraero afirmou que o atraso aconteceu porque o Tribunal de Contas da União paralisou obras importantes.