Título: Governo suspende ações para conter entrada de capital por crise na UE
Autor: Beck, Martha
Fonte: O Globo, 23/11/2010, Economia, p. 29

Equipe econômica teme que turbulência leve à redução de investimentos

BRASÍLIA. A crise da dívida na Irlanda e a ameaça de uma nova onda de turbulência financeira na Europa devem retardar a adoção de mais medidas de controle de capital no Brasil. Para a equipe econômica, é preciso saber o quanto a crise vai se espalhar e aumentar o risco para os investidores. Quando há grandes temores no mercado, a tendência é que os aplicadores procurem um porto seguro, como os EUA. Isso poderia acabar reduzindo o fluxo de capitais para o mercado brasileiro.

Além disso, a mudança de governo não recomenda a adoção de medidas potencialmente polêmicas, como a imposição de quarentena a capitais externos.

- Estamos em um período de transição. É melhor aguardar - disse uma fonte da área econômica.

O ministro da Fazenda, Guido Mantega, tem reiterado que o comportamento do câmbio mostra o sucesso das medidas que já foram adotadas para evitar uma excessiva valorização do real frente ao dólar. Estudos da assessoria técnica de Mantega dizem que a moeda brasileira perdeu força ante à americana nas últimas semanas.

- Isso é resultado do aumento do IOF (Imposto sobre Operações Financeiras) - disse um técnico.

Excesso de liquidez estimula fluxo de capital

O governo tem consciência de que o arrefecimento da crise, porém, não é garantia de interrupção da enxurrada de dólares. A argumentação é que o mundo vive um período de extrema liquidez. Portanto, ainda que os investidores sejam aconselhados pelos bancos a terem cautela na exposição ao real, eles têm margem (volume de recursos) de sobra para bancar um risco maior.

- A liquidez é tão grande que os investidores têm margem para continuar entrando nos mercados. É preciso ver onde vai parar toda essa volatilidade - disse o técnico.

No cardápio das equipes econômica e de transição estão diversas alternativas de controle de capital. Para os técnicos, medidas que reduzam a rentabilidade do investidor que quer ingressar no país são as mais eficientes. Isso incluiria mais aumento do IOF ou a imposição de uma quarentena para a entrada de dinheiro no país.

Há ainda medidas prudenciais como limitar exposição que aplicadores podem ter na moeda local ou mexer de alguma maneira na margem das operações com derivativos. Nesse sentido, o governo já aumentou o IOF que incide sobre as garantias que os aplicadores precisam depositar no país para atuar no mercado futuro. Já a opção de dificultar a saída de capital do país foi descartada, pois é considerada ineficaz.

Na terceira semana de novembro (com quatro dias úteis) a balança comercial brasileira registrou déficit de US$663 milhões, resultado de US$3,931 bilhões em importações e US$3,268 bilhões em exportações. Além disso, a média diária das encomendas subiu 17,7% na comparação com a semana anterior, para US$982,8 milhões, enquanto as vendas, pelo mesmo critério, caíram 16,8%, para US$817 milhões.

COLABOROU Geralda Doca