Título: 'A política fiscal é a prova dos nove'
Autor: Beck, Martha ; Duarte , Patrícia
Fonte: O Globo, 25/11/2010, O Pais, p. 4

"A presidente eleita, Dilma Rousseff, escolheu a equipe que irá conduzir a política econômica do seu governo. No seu conjunto foi uma escolha inteligente porque a mera recondução dos atuais ministro e presidente do Banco Central poderia passar a percepção de continuísmo e falta de autonomia frente ao presidente Lula. De qualquer forma, não há surpresas que criem maiores inseguranças quanto aos nomes.

Alexandre Tombini é um técnico qualificado para presidir uma instituição chave para o equilíbrio macroeconômico do país. Não irá preencher o vazio da saída de Henrique Meirelles instantaneamente, após gestão longa e bem sucedida, da mesma forma como este também não o fez de imediato ao substituir Armínio Fraga. Miriam Belchior chega como gestora do PAC levando para o Planejamento o programa que moveu o segundo governo Lula, e preenche alguns requisitos, particularmente a confiança de Dilma e a preferência manifesta dela pelo equilíbrio de gênero no governo.

O que essas escolhas indicam em termos de orientação da política? Este não será um governo de experimentos ou aventuras, nem tampouco teremos por enquanto viés mais "desenvolvimentista" à custa de atitude um pouco mais leniente com a inflação. Não enxergo um BC mais "flexível" em termos de política monetária, principalmente porque ninguém gostaria de destruir a credibilidade tão duramente conquistada; pelo contrário, deverá reafirmar sua autonomia.

Então a "prova dos nove" é a política fiscal. Não por acaso os três anunciaram ontem em uníssono as intenções de disciplina fiscal para valer, com redução da dívida do governo, controle dos gastos correntes, possibilitando juros básicos condizentes com a normalidade macroeconômica. Vamos torcer para que a equipe traduza em ações seus primeiros pronunciamentos".