Título: Com Tombini, diretoria do Banco Central deverá ter poucas mudanças
Autor: Beck, Martha ; Duarte , Patrícia
Fonte: O Globo, 25/11/2010, O Pais, p. 4

Indicado tem fama de negociador firme e de cara fechada, "sério até para contar piada"

BRASÍLIA. O futuro presidente do Banco Central, Alexandre Tombini, não deverá fazer muitas mudanças na atual diretoria da instituição, basicamente formada por funcionários de carreira. Atual diretor de Normas da instituição, ele tem recebido indicações que, se mantiver a atual estrutura, não terá resistências porque seus colegas estão dispostos a ficar no cargo, segundo fontes ouvidas pelo GLOBO.

Ontem, Tombini disse que sua indicação para a presidência do BC é reflexo da "meritocracia das instituições públicas", mas não fechou as portas para que profissionais do mercado também possam integrar sua equipe. Além do presidente, o BC tem mais sete diretores.

A expectativa é que Tombini seja sabatinado pelo Senado na próxima reunião do Comitê de Política Monetária (Copom), dias 7 e 8 de dezembro. Sua aprovação deve ser rápida: Tombini é bem avaliado por políticos da base governista e da oposição.

Tombini, gaúcho de 47 anos, torcedor do Internacional, é considerado um negociador firme. O semblante fechado, "sério até para contar piada", como contam amigos, lhe rendeu nos bastidores o apelido de sargento Schultz, personagem da série de TV americana "Guerra, Sombra e Água Fresca", chefe da guarda num campo de prisioneiros. A citação nunca foi empregada nas reuniões com Tombini.

Apesar da firmeza, a cortesia de Tombini é reconhecida por interlocutores. Dilma espera que Tombini seja a cara que o mercado deseja para o BC: autônomo para tomar decisões duras e impopulares e manter intocado o regime de metas de inflação - mas com sensibilidade para ter sintonia fina com as aspirações do Executivo.

Tombini tem uma vantagem sobre o atual presidente do BC, Henrique Meirelles: a relação com o ministro da Fazenda, Guido Mantega. É considerado um técnico de formação sólida, tanto acadêmica como na administração pública.

- É o perfil ideal para o cargo. Tem pulso firme, mas não entra em confrontos. Tem habilidade, profundidade técnica e muito bom senso. Tem, com certeza, peso para manter a autonomia do Banco Central - afirma o economista carioca Murilo Portugal, diretor-adjunto do Fundo Monetário Internacional (FMI), que trabalhou com Tombini no Fundo e na equipe econômica no primeiro mandato de Lula.