Título: Analistas aprovam nomes para equipe econômica
Autor: Duarte,Alessandra ; Suwwan, Leila
Fonte: O Globo, 25/11/2010, O Pais, p. 12

Sinais de continuidade e de contenção de gastos correntes, com aumento dos investimentos, foram elogiados

RIO e SÃO PAULO. Parece que o anúncio feito ontem dos primeiros nomes da próxima equipe econômica do país era o que mercado e academia queriam ouvir. Analistas dos dois setores elogiaram os sinais de continuidade vindos da escolha de Alexandre Tombini para a presidência do Banco Central, de Miriam Belchior para o Planejamento, e da permanência de Guido Mantega na Fazenda. Aprovaram ainda os primeiros pronunciamentos dos três, como a afirmação de Mantega de que 2011 será o ano para conter gastos.

Economista-chefe da Gap, Alexandre Maia destaca que "os primeiros sinais foram bem no caminho da manutenção da política atual":

- Mais que isso: de uma volta à política econômica pré-2009, que foi desvirtuada pela crise mundial - diz, elogiando a "autonomia total" ao BC citada por Tombini. - Acho que foi o principal ponto no sentido de combater incertezas do mercado. Assim como o compromisso do Mantega com as metas de inflação e com a redução da relação dívida/PIB, que, aliás, é uma forma de não sobrecarregar o BC. Com a Fazenda ajudando, a política fiscal faz uma parte do trabalho da política monetária.

- Tombini é uma solução não traumática, pois faz parte da equipe de Henrique Meirelles - completa Carlos Langoni, ex-presidente do BC e diretor do Centro de Economia Mundial da FGV. - O que precisará ser testada é a relação entre Tombini e Dilma, porque hoje, como o BC não tem autonomia institucionalizada por lei, ela é só informal, depende muito dessa relação, e da personalidade e competência de quem está à frente do BC.

Professor da UFRJ e pesquisador da FGV, Armando Castelar elogia a declaração sobre a autonomia do BC e também o pronunciamento de Miriam Belchior sobre foco nos investimentos:

- Hoje os gastos correntes são mais de 30% do PIB, e os investimentos, cerca de 1%. Essa recomposição dos gastos públicos, com redução dos gastos correntes e aumento dos investimentos, é algo esperado. Também faz sentido que a Miriam fique responsável por isso, por conta da experiência dela com os investimentos do PAC.

O presidente do Bradesco, Luiz Carlos Trabuco, diz, em nota, que as escolhas "confirmam as melhores expectativas sobre os rumos do novo governo", pois elas têm como marca "a aplicação do eficiente conceito administrativo de continuidade e renovação, sem quebra de paradigmas ou viradas de mesa". A nota cita os nomes anunciados como "quadros experientes (...) dedicados e comprometidos com o setor público".

Também em nota, o presidente da Fecomércio-SP, Abram Szajman, diz aprovar "os compromissos de redução dos gastos e modernização do setor público, de redução do tamanho do Estado, da manutenção da estabilidade e da garantia das condições para expansão da economia".

O nome de Tombini foi elogiado até pelo ex-presidente Fernando Henrique Cardoso. Em evento ontem, ele o chamou de "discreto e competente". Fernando Henrique lembrou que Tombini ajudou a elaborar o sistema de metas de inflação durante seu mandato, em 1999. O ex-presidente também afirmou que não acredita que Tombini seja suscetível a pressões políticas.

Também sobre Tombini, o presidente da Febraban, Fábio Barbosa, diz ser um profissional de perfil bastante técnico:

- Será a indicação de que o governo vai manter a mesma política que vinha mantendo, como disse Dilma durante toda sua campanha.

Sindicalistas, porém, divergiram do mercado quanto às nomeações. Para o presidente da Força Sindical, deputado Paulo Pereira da Silva (PDT), as reivindicações de seu setor continuarão sendo barradas na Fazenda. Mas a central "comemorou" a saída de Meirelles do Banco Central:

- O Tombini é uma pessoa de carreira. Pode ter mais compromisso com o Brasil do que o Meirelles.