Título: Cada crise no devido patamar
Autor: Rothenburg, Denise
Fonte: Correio Braziliense, 11/07/2009, Política, p. 7

Estratégia da oposição no Senado é fazer distinção clara entre problemas administrativos e os que envolvem Sarney

Os próximos capítulos do embate entre governo e oposição na ¿faxina¿ do parlamento terão como palco o Conselho de Ética e a CPI da Petrobras

A oposição começou a trabalhar ontem para separar as duas crises que corroem a imagem do Senado. Uma, a administrativa, na qual é raridade encontrar quem não recebeu um benefício extra ou tenha contratado um apadrinhado. A outra, comentam, é a crise do presidente do Senado, José Sarney (PMDB-AP), criada para enfraquecer a posição do governo Lula rumo a 2010 e que terminou por ganhar voo próprio. No caso da primeira crise, a oposição acredita estar quase resolvida com as medidas anunciadas ao longo dos últimos 30 dias. A de Sarney, garantem, eles vão tentar inflar a partir da semana que vem, com a instalação da CPI da Petrobras e, mais tarde, no Conselho de Ética.

A batalha governo versus oposição será desigual. Os aliados do governo e de Sarney contam com maioria nos dois colegiados para cumprirem as missões espinhosas. Dentro do Conselho de Ética, a tarefa governista será evitar a abertura de processo contra o presidente da Casa. A justificativa é a de que a maioria dos fatos foi anterior ao mandato que Sarney conquistou em 2006. Portanto, não poderia ser analisada como quebra de decoro. No Conselho, quem comandará os trabalhos é o bloco de apoio ao governo encabeçado pelo PT. Os peemedebistas já conversaram com os petistas para tentar garantir um presidente cordato a Sarney.

Em troca daquela força a Sarney no Conselho de Ética, os petistas terão todo o apoio do PMDB na CPI da Petrobras no que se refere às tentativas de atingir e convocar ministros, como, por exemplo, a da Casa Civil, Dilma Rousseff. Os senadores aliados já foram avisados de que o governo não quer ver Dilma na CPI e nem o ministro de Minas e Energia, Edison Lobão. A CPI é da Petrobras e da Agência Nacional do Petróleo (ANP) e as convocações de autoridades deveriam se restringir a quem compõe esses dois colegiados.

Ciente dessa estratégia, a oposição se prepara para tentar convocar o presidente da Petrobras, Sérgio Gabrielli, o diretor-geral da ANP, Haroldo Lima, e todos os demais dirigentes das duas instâncias. No bolo, estará Alan Kardec Dualibe, nomeado para a ANP no ano passado. Dualibe é genro do presidente da Fundação Sarney, João Carlos Souza e Silva. Os governistas vão tentar barrar um pedido genérico de convocação de todos os diretores da agência e terão maioria para isso.

Equilíbrio No Conselho de Ética, o placar é mais equilibrado do que na CPI. No conselho, o bloco governista e o PMDB somam nove cadeiras, enquanto a oposição tem seis. Isso considerando que o PDT raramente segue o que pede o PMDB no quesito ¿poupe um senador¿. Na CPI, a contabilidade governista indica oito votos a favor de Sarney e do governo e três contra.

A maior preocupação dos governistas, hoje, é o que se refere à coincidência de calendários. A CPI terá 180 dias para funcionar e pode ser prorrogada por igual período. Ou seja, ou termina em dezembro, ou na temporada de convenções para a campanha eleitoral. Por causa disso, na base governista há quem diga que foi um erro esperar tanto tempo para instalar a comissão. Agora, perto do calendário eleitoral, há quem considere que a mesma dificuldade que o governo teve para segurar o PT ao lado de Sarney terá para garantir a maioria no papel de tropa de choque, evitando que a CPI realize as investigações. É nessa crise que a oposição pretende agora jogar todas as fichas.