Título: EUA enviam porta-avioes a coreia do sul
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Fonte: O Globo, 25/11/2010, O Mundo, p. 41

Os dois países iniciam exercícios militares no domingo. Norte acusa vizinho de levar região à beira da guerra

WASHINGTON e SEUL. Estados Unidos e Coreia do Sul iniciam neste domingo quatro dias de manobras militares conjuntas com o claro objetivo de dissuadir qualquer agressão da Coreia do Norte. Os exercícios foram acertados numa conversa entre o presidente Barack Obama e o sul-coreano Lee Myung-Bak, após um ataque do Norte, na terça-feira, à ilha de Yeonpyeong. Ontem foram encontrados os corpos de dois moradores da ilha ¿ na primeira morte de civis desde 1987 ¿, elevando para quatro o número de vítimas no confronto.

O USS George Washington, um porta-aviões nuclear com capacidade para transportar 75 aviões e 6 mil soldados, zarpou ontem de manhã da base japonesa de Yokosuka, em direção à Coreia do Sul e deve ser acompanhado por outros navios. O Ministério do Exterior norte-coreano, por sua vez, voltou a culpar o Sul pelo confronto e afirmou que o vizinho está deixando a região ¿à beira de uma guerra com a provocação militar¿.

¿ Um porta-aviões é o sinal mais visível que existe da projeção de poder. Pode-se considerar isso como uma forma de dissuasão preventiva ¿ observou Lee Chung-min, da Universidade Yonsei, em Seul.

Apesar da demonstração de força, Obama não poupa esforços para acalmar os ânimos diante de um conflito que envolve um país nuclear e para atrair a China na busca de uma solução. O almirante Mike Mullen, chefe do Estado-Maior Conjunto, destacou a importância de Pequim liderar esse esforço.

¿ O país que tem influência sobre Pyongyang é a China. Então, sua liderança é absolutamente crítica ¿ disse.

No Departamento de Estado, o porta-voz Philip Crowley afirmou:

¿ A China tem um papel essencial para levar a Coreia do Norte a uma mudança de direção radical.

Pressionada, a China pediu ontem que as duas Coreias demonstrem calma e moderação e disse se opor ¿a qualquer medida prejudicial à paz e à estabilidade¿. Diferente de outros governos, Pequim não condenou o ataque.

¿ A China encara este incidente muito seriamente ¿ disse Hong Lei, porta-voz do Ministério do Exterior. ¿ A China pede à Coreia do Norte e a do Sul que exerçam calma e moderação e o quanto antes possível participem dos diálogos.

A missão das Nações Unidas em Seul pediu que a organização converse com Pyongyang para aliviar a tensão. ¿A missão investigará o incidente como parte de sua responsabilidade de manter o acordo de armistício e determinar qualquer violação¿, disse, em comunicado.

Ontem foram encontrados os corpos de dois homens de cerca de 60 anos nos escombros de uma casa na ilha, o que deve aumentar ainda mais a pressão sobre o governo para uma resposta mais contundente. Numa ríspida sessão, o ministro da Defesa, Kim Tae-young, foi questionado por parlamentares.

¿ Sinto que o governo não tenha lançado um bombardeio sem piedade com caças durante a segunda bateria de morteiros do Norte ¿ declarou o ex-ministro da Defesa Kim Jang-soo, parlamentar do governante Grande Partido Nacional.

¿ Por que disparamos só 80 descargas quando o Norte disparou 170? ¿perguntou Sim Dae-pyung, da oposição.

Cerca de 30 casas ficaram destruídas. Um supermercado, numa construção que já abrigou um escritório da agência de inteligência, parece ter sido um dos principais alvos dos disparos. A população civil, de 1.700 pessoas, ainda está sendo removida da ilha.

Para EUA, ataque foi ação isolada, ligada à sucessão

Na terça-feira, depois de a Coreia do Sul se recusar a interromper exercícios militares perto da fronteira marítima, o Norte abriu sua artilharia contra a ilha. Foi um dos piores confrontos desde o fim das hostilidades e chama a atenção por atingir civis: além dos dois moradores mortos, três outros ficaram feridos. Para os sul-coreanos, a morte de civis eleva o conflito a um novo patamar. O registro anterior é de 23 anos atrás, quando a explosão de um avião sul-coreano matou 115 pessoas.

Mas o Departamento de Estado americano viu o ataque como uma ação isolada. Para os EUA, Pyongyang não estaria pronto a se engajar numa longa campanha militar. O almirante Mike Mullen acredita que o ataque esteja ligado à sucessão na liderança do país, depois de Kim Jong-il escolher seu filho mais novo como herdeiro político.