Título: Editora boicota Prêmio Jabuti após vitória de romance de Chico Buarque
Autor: Conde, Miguel
Fonte: O Globo, 13/11/2010, O País, p. 4

Grupo Record, um dos maiores do país, reclama de critérios da disputa

A Câmara Brasileira do Livro (CBL), que há 52 anos promove o Prêmio Jabuti, anunciou ontem que vai discutir os critérios de premiação nas categorias Melhores Livros do Ano de Ficção e Não Ficção, depois que Sérgio Machado, presidente do Grupo Editorial Record, anunciou que sua empresa não participaria mais do prêmio, o mais tradicional do país.

A decisão de Machado, anunciada em carta enviada dia 9 à direção da CBL e numa entrevista publicada ontem na ¿Folha de S. Paulo¿, foi tomada em protesto contra a escolha de ¿Leite derramado¿ (Companhia das Letras), de Chico Buarque, como Livro do Ano de Ficção, embora na categoria romance ele tivesse ficado em segundo lugar, atrás de ¿Se eu fechar os olhos agora¿, de Edney Silvestre, da Record. Este ano, ¿Leite derramado¿ ganhou também o Portugal Telecom.

Na entrevista, Machado disse que ¿o Jabuti virou um concurso de beleza, com critérios de programas como os de Faustão e Silvio Santos¿. Na carta, o editor afirma que ¿as normas do Jabuti desvirtuam o objetivo de qualquer prêmio, pondo em desigualdade os escritores que não sejam personagens mediáticos. Para não mencionar fato ainda mais grave: quando é evidente que a premiação foi pautada por critérios políticos, sejam da grande política nacional, sejam da pequena política do setor livreiro-editorial.¿ Na nota oficial divulgada pela CBL no final da tarde de ontem, a entidade lembra que o prêmio ¿sempre se pautou pela lisura e cumprimento de seu regulamento¿, mas que o assunto seria debatido pela comissão organizadora na primeira reunião preparatória para a edição de 2011.

A incongruência entre os dois resultados é consequência do modelo de julgamento adotado pelo Jabuti desde 1993, que estabelece júris diferentes para as categorias específicas (romance, contos e crônicas, poesia etc.) e para a premiação geral do Livro do Ano.

As premiações por categorias são decididas por um júri de três pessoas especializadas na área, enquanto a premiação final, de melhores livros do ano (em que cada vencedor leva R$ 30 mil), é decidida pelos votos de todos associados das organizações do mercado editorial responsáveis pelo Jabuti. O peso acaba sendo mais comercial, como a própria CBL admite.

Desde 1993, o Jabuti já escolheu como Livros do Ano 17 obras que não foram as ganhadoras em sua categoria.

José Luiz Goldfarb, curador do prêmio desde 1991, disse que os comentários de Machado são ¿choro de perdedor¿.

¿ Ele sabia da regra do jogo.

O Jabuti tem regras estabelecidas e fizemos o processo todo cumprindo o que está no regulamento ¿ afirmou.